A vida consagrada na Sociedade Regina Virginum
Fahima Akram Salah Spielmann
O sino soa, mais uma vez, no silêncio dos corredores de um mosteiro da Sociedade de Vida Apostólica de Direito Pontifício Regina Virginum. Um ruído corriqueiro e banal para o mundo moderno, mas ali, para as religiosas, reveste de grandeza, convidando cerca de sessenta almas “anônimas” – que sentem em si o chamado para o heroísmo – para um ato da comunidade: a recitação do Rosário.
Num mundo onde a grande maioria dos homens é sôfrega de liberdade, qual seria a razão de tantas jovens renegarem sua vontade própria, e com alegria sujeitarem-se, em obediência a uma regra, a um simples badalar de sino?
A resposta encontra-se no apelo para a santidade (VS 17-19). Todos os batizados são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Contudo, os religiosos vão mais além e consagraram a própria vida ao Senhor, no espírito e na prática dos conselhos evangélicos: obediência, pobreza e castidade. 1
Segundo o atual Código de Direito Canônico, a principal característica de quem aderiu a vida consagrada é uma entrega total nas mãos do Superior, mediante votos perpétuos ou temporários, implicando a “separação do mundo que é própria da índole e finalidade de cada instituto” (Cân 607 §3).
“Cesse a vontade própria, e já não haverá inferno” dizia São Bernardo. Segundo as normas da Sociedade Regina Virginum, é “regulamentado o alcance da obediência2, e determinado os graus de obrigação com o cerimonial correspondente”. A este respeito comenta Mons. João S. Clá Dias, o seu Fundador: “o voto de obediência, que assim está bem designado, não estaria mal se se chamasse ‘voto de liberdade’, pois é nesse voto que o membro da instituição se vê livre dos erros e faltas que poderia cometer caso seguisse o impulso de seus instintos”.
Quanto à prática do conselho evangélico da pobreza, o próprio Cristo ordenou-a aos seus seguidores: “Qualquer um de vós, que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Conforme o Magistério da Igreja, “o preceito do desprendimento das riquezas é obrigatório para se entrar no Reino dos céus” (CEC 2544).
Na Sociedade Regina Virginum, a regra, ou ordo, “incentiva o desprendimento dos bens materiais, dispondo deles com a prévia autorização da superiora”, havendo um cerimonial específico para a distribuição de bens.3
A Castidade4, também chamada virtude angélica, “é a maneira eminente de se dedicar mais facilmente a Deus com coração indiviso” (CEC 2349).
Aos membros desta sociedade, ela é estimulada, ao mesmo tempo em que é proporcionada a fuga das ocasiões próximas. Por exemplo, temos em nossos meios a prática da sábia norma de antigas regras de quase todos os mosteiros posteriores ao século V, onde se vedava a possibilidade de sair sozinha, inclusive em missão, além de outras normas como a proibição do acesso a algumas comunicações sociais, como a internet, sem a autorização expressa da Superiora, e o relacionamento com pessoas do outro gênero sem a licença da mesma”.
Além de praticar os conselhos evangélicos, as religiosas cumprem as normas que estão sob o carisma do fundador, conforme o cânon 576 12. “O fundador representa para o religioso uma imagem divina, um modelo que, na sua vida e em seu ensinamento, reproduz a Cristo de maneira adaptada a seus filhos”, segundo as sábias palavras do Padre Gilmont.5
Nos pilares da espiritualidade da Sociedade Regina Virginum encontramos “uma concisa expressão: a devoção a Jesus Eucarístico e a Maria Santíssima, e a fidelidade ao Papa”.
“Pela recepção frequente ou diária da Santíssima Eucaristia, aumenta-se a união com Cristo; alimenta-se abundantemente a vida espiritual; a alma se enriquece com as virtudes e, a quem a recebe, é dado um penhor mais seguro da felicidade eterna” (EM 37), além das comunhões diárias, há a adoração ao Santíssimo Sacramento que é exposto habitualmente nas casas dessa Sociedade.6
Cônscias de que por suas próprias forças não conseguem alcançar a santidade, as jovens religiosas, com assídua frequência ao Sacramento da Penitência, rezam, quotidianamente, além da Liturgia das Horas e de diversas orações, os vinte mistérios do Rosário. Voltando-se para Maria Santíssima, “a primeira e perfeita consagrada, carregada por aquele Deus que Ela leva nos braços; Virgem, pobre e obediente, toda dedicada a nós, porque é toda de Deus” 7, com a Sua materna ajuda renovam, diária e constantemente, o seu “Praesto sum”, “eis me aqui”, para comunicar aos outros a dádiva do seu carisma (cf. 1 Cor 14, 12) e testemunhar em primeiro lugar o maior carisma, que é a caridade (cf. 1 Cor 13)8.
1 Cân 573, § 1: “A vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos é uma forma estável de viver, pela qual os fiéis, seguindo mais de perto a Cristo sob a ação do Espírito Santo, consagram-se totalmente a Deus sumamente amado, para assim, dedicados por título novo e especial a sua honra, à construção da Igreja e à salvação do mundo, alcançarem a perfeição da caridade no serviço do Reino de Deus e, transformados em sinal preclaro na Igreja, prenunciarem a glória celeste”.
2 Cân 601: “0 conselho evangélico da obediência, assumido com espírito de fé e amor no seguimento de Cristo obediente até à morte, obriga a submissão da vontade aos legítimos Superiores, que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as próprias instituições”.
3 Ordo de Costumes. Arautos do Evangelho. 2001, p.56.
4 Cân 599: “0 conselho evangélico da castidade, assumido por causa do Reino dos céus e que é sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coração indiviso, implica a obrigação da continência perfeita no celibato”.
5 GILMONT. Jean François. Paternité et Médiation du Fondateur d’Odre. Toulousse:1964. p. 416-4 17.
6 Cân. 663 §2: “Os membros quanto possível, participem todos os dias do sacrificio eucarístico, recebam o santíssimo Corpo de Cristo e adorem o próprio Senhor presente no Sacramento”.
7. Papa Bento XVI, homilia, 2 de fevereiro de 2010.
8. Papa Bento XVI, homilia, 2 de fevereiro de 2009.
Onde fica a Sociedade Regina Virginum na cidade do Rio de Janeiro ?