A intuição do divino
Maria Teresa Ribeiro Matos
Na cidade eterna, próximo à Basílica de Santa Croce in Gerusalemme, no ano de mil novecentos e trinta e seis, a pequena Antonietta Meo, apelidada de Nennolina, teve sua perna amputada devido ao diagnóstico de osteossarcoma, um tumor maligno. A menina, então, começou a escrever uma série de cartas até o dia de sua morte. Os destinatários destas missivas não eram pobres mortais, mas a Virgem Santíssima, o Menino Jesus, o Espírito Santo e a Santíssima Trindade. Com simplicidade e tão ardente amor penetrava nesses altos mistérios de nossa fé.
“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos” (Mt 11, 25).
Deus muitas vezes não age conforme os critérios humanos. “Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 8-9). O Altíssimo opera maravilhas através de pessoas que aos olhos do mundo não tem nenhuma importância. Ele escolhe os que são considerados fracos para assim confundir os fortes, e os que são considerados estultos para confundir os entendidos (I Cor 1, 27). A estes ele pode dar a conhecer verdades que cientistas e filósofos abandonados a seus próprios esforços não atinam.
Acima da natureza humana criada por Deus, está outra criatura, a graça, que aperfeiçoa a natureza e é distribuída a todos em medida determinada unicamente por Ele. Essa vida da graça infundida em nossa alma pelo batismo, se desenvolve através das virtudes e dons do Espírito Santo. Entre eles destacamos , o dom da inteligência, que nos dá penetrante intuição das coisas reveladas e naturais em ordem ao fim último sobrenatural.
O Espírito Santo punha em movimento este dom, de maneira peculiar, na alma de Nennolina, como ela mesma lho pedia freqüentemente: “Querido Jesus, diga ao Espírito Santo que me ilumine de amor e me cumule de seus sete dons”. Possuía um tão ardente amor a Jesus Eucarístico que mesmo antes de fazer a primeira comunhão, escrevia-Lhe inúmeras cartas, obtendo a graça de recebê-lo na noite de Natal de mil novecentos e trinta e seis, quando permaneceu quase uma hora de joelhos em ação de graças, apesar dos graves incômodos que dessa posição lhe resultava pelo uso da perna ortopédica. Durante os últimos dias de sua existência a Eucaristia era-lhe levada todos os dias, sendo a última recebida no dia dois de julho de mil novecentos e trinta e sete, um dia antes de sua morte.
Assim, Antonietta, que teve uma curta existência terrena, deixou testemunho de uma densa e penetrante intuição sobrenatural adquirida através do dom de inteligência, instrumento direto e imediato do Divino Paráclito.