Necessidade da oração
Ana Rafaela Maragno
Tal dilema, no qual se encontram estes pobres militares, representa bem a imagem do cristão que não recorre à oração.
Após ter cometido o pecado original, o homem, outrora favorecido pela graça e por todos os dons que Deus lhe havia concedido no Paraíso, introduziu em si mesmo uma raiz de pecado e viu-se privado de todos os privilégios, à mercê de suas paixões desregradas e das misérias de sua frágil natureza. Lançado no mar impetuoso da existência neste vale de lágrimas, constantemente vê-se na contingência de enfrentar adversários poderosíssimos: ora o demônio, ora o mundo, ora as más inclinações da própria carne. Estes três inimigos possuem armas eficazes para tentar o homem e fazê-lo tropeçar ao longo do caminho. Ora, Deus, que jamais abandona os seus filhos, concede um meio infalível, ao mesmo tempo espada e escudo, para vencer tais contendores: a Oração! E o cristão que desconhece o valor e os benefícios dela, bem pode ser comparado àqueles soldados que contam com armas grande alcance, mas não sabem fazer uso delas.
Assim como para a subsistência do corpo é necessário o alimento, assim também é a oração para a vida da alma.
Para isso, é indispensável ter sempre presente o conselho dado pelo Apóstolo: “orai sem cessar” (1 Ts 5, 17). Em todas as circunstâncias da vida, em qualquer idade, em todos os lugares, que ninguém se julgue dispensado da oração, por mais virtuoso que pareça! Ademais de nos proporcionar uma aproximação com o Criador, ela também tem a finalidade de “tirar do caminho da morte as almas dos defuntos, robustecer os fracos, curar os enfermos, libertar os possessos, abrir as portas das prisões, romper os grilhões dos inocentes. Ela perdoa os pecados, afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de alegria os generosos, conduz os peregrinos, acalma as tempestades, detém os ladrões, dá alimento aos pobres, ensina os ricos, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam, confirma os que estão em pé”1.
A oração nos ajuda a vencer todos os obstáculos e nos dá sustento e fortaleza para galgarmos a montanha da perfeição. Encontraremos neste caminho muitas pedras e borrascas: momentos de escuridão, sensações de abandono, quedas inevitáveis, trechos íngremes onde nos parece faltar o fôlego; por outro lado, teremos também as consolações e os gáudios indizíveis, nos quais nos sentiremos afagados e carregados pela Providência.
Em todas estas situações, sempre será a oração “[…] um simples olhar lançado ao Céu, um grito de reconhecimento e de amor no meio da provação ou no meio da alegria”2. Devemos, portanto, intensificar de contínuo nossas invocações e súplicas e rezar em todas as ocasiões, em união com Nosso Senhor Jesus Cristo, implorando a Ele as graças necessárias para nosso progresso na vida espiritual e nossa salvação. Como bem afirma Santo Agostinho, Ele é quem “ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça; a recebe a nossa oração como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz”3.
1 TERTULIANO. Do tratado sobre a oração. In: LITURGIA DAS HORAS. São Paulo: Vozes, Paulinas, Paulus, Ave-Maria, 2001. Vol. II. p. 222.
2 “[…] c’est un simple regard jeté vers le Ciel , c’est un cri de reconnaissance et d’amour au sein de l’épreuve comme au sein de la joie” (SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE. Histoire d’une ame: manuscrits autobiographiques. 35. ed. Paris: Saint- Paul, 1978. p. 276. Tradução da autora)
3 SANTO AGOSTINHO. Dos Comentários sobre os Salmos. In: LITURGIA DAS HORAS. São Paulo: Vozes, Paulinas, Paulus, Ave-Maria, 2000. Vol.II. p. 329.