Santa Maria Madalena – porque muito amou…
Thaliane Neuburger
Diversos autores afirmam que a caridade supera em beleza, valor e essência a todas as demais virtudes, inclusive a própria Fé e Esperança pelo fato de Deus constituir-Se no seu objeto primário e principal 2 , e porque estas não ultrapassarão os umbrais da eternidade, enquanto que “a caridade jamais acabará” (1Cor 13, 8).
Segundo São Tomás , o progresso na vida sobrenatural consiste, essencialmente, na perfeição da caridade 3 . Ela é a virtude que nos une diretamente a Deus conforme no-lo demonstra o discípulo amado: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4, 16). Disto procede a supremacia do amor: porque as demais virtudes somente preparam e iniciam essa união, mas quem a realiza de modo pleno é a caridade 4 .
Por outro lado, o Apóstolo São Paulo mostra-nos que “o amor de Cristo nos pressiona” (2Cor 5, 14). Mas, no que consiste esse “pressionar”? Vejamos o que nos explica o Revmo. Monsenhor João Clá:
“É um modo de exprimir a força que tem o amor de Nosso Senhor por nós; este amor é transformante, infunde bondade e faz com que sejamos aquilo que jamais seríamos pelos nossos esforços ou natureza; é um amor que faz com que eu dê em relação ao Bem que é Ele, aquilo que eu nunca conseguiria dar por meu esforço. (..) Ele nos confisca [pois] é um amor tão superior, exuberante, rico, transbordante e incomensurável, que uma vez manifestado, torna-se impossível, de nossa parte, não vivermos para Ele” 5 .
Estes foram os efeitos do amor do Divino Mestre em Santa Maria Madalena, “que foi cativada e transformada pela força deste amor, a tal ponto que depois de uma vida de vícios e desvarios, atingiu tão eminente grau de admiração e enlevo por Nosso Senhor Jesus Cristo e, sobretudo, foi tão amada por Ele que obteve a restauração da inocência” 6 .
Voltemo-nos, pois, para sua vida e veremos as grandes maravilhas operadas por Deus naquela alma.
Maria Madalena nasceu de uma família muito digna, talvez a mais rica de Israel. Possuindo, desde pequena, uma aparência privilegiada, sua mãe tinha o costume de colocá-la sentada encima de uma almofada na janela, para que todos pudessem admirar sua beleza e seu bom comportamento. As ruas daquela época eram estreitas e os que por ali transitavam viam-na, conversavam um pouco com ela e, encantados, elogiavam tão extraordinária menina. Elogios estes, que serviram para dar início a um processo que a levaria a cometer os piores pecados, porque, “quando a pessoa não sabe se defender dos elogios e restituí-los a Deus, isso produz na alma um estrago tremendo” 7 , pois, o “orgulho leva à impureza” 8 . Foi justamente o que aconteceu com a jovem Maria Madalena.
Com a perda dos pais, deu-se a divisão da vasta herança. Coube a Lázaro — sendo o primogênito — herdar todas as terras e propriedades que possuíam em Jerusalém, assumindo com isso o encargo social e político da família. Marta, por sua vez, ficou em Betânia e viu-se obrigada a administrar as propriedades do irmão. Restou à Maria — por ser a caçula — o castelo que a família possuía em Mágdala, cidade muito mundana da época, devido à sua localização às margens do Mar da Galiléia.
Chegando a idade das paixões que rejeitam todo freio; quando a presença de toda pessoa honesta e séria resulta-lhe pesada” e sendo Maria Madalena “muito adulada e muito bela, circundada de adoradores, desfrutando ao respirar o incenso agradável dos elogios e sobretudo o perfume embriagante do prazer, fugiu da companhia de sua irmã” 9 , aos quinze anos, para estabelecer-se em Mágdala. No entanto, em pouco tempo, “começou a levar uma vida afastada dos Mandamentos da Lei de Deus, tornando-se, assim, uma pecadora” 10 .
Em certo momento chega a Mágdala rumores de estupefação, admiração e entusiasmo pelo grande profeta: Jesus Nazareno. Muito dada a estar de acordo com as notícias de acontecimentos mais recentes, Maria decidiu reunir uma caravana e ir ao encontro daquele, do qual todos comentavam. Quando chegaram ao lugar onde o Divino Mestre se encontrava, Ele “a viu, a olhou e a curou” 11 , e, sobretudo, infundiu em sua alma graças superabundantes, operando assim sua conversão. Abandonando tudo o que tinha e todos os antigos amigos que a levaram ao pecado, seguiu a Nosso Senhor.
Entretanto, após passar um longo período acompanhando a Jesus juntamente com as outras Santas Mulheres, sentiu um desejo de voltar à Mágdala e à sua antiga vida. A pretexto de buscar algumas coisas, embora Marta e as outras insistissem à que não retornasse, ela decidiu ir e lá chegando retomou a sua vida de pecado.
Um dia, estando Nosso Senhor a pregar perto de Cafarnaum, dá-se o reencontro. Aquele Divino Olhar recai sobre Maria, mas desta vez, “esse olhar do Salvador e essa palavra penetrante mudaram seu coração mais dolorido que endurecido. Em seguida, ela seguiu a Jesus e não O deixou mais” 12 .
Algum tempo depois, o Divino Mestre é convidado para jantar em casa de um fariseu. Maria Madalena rompendo as praxes da época — as quais proibiam a entrada de mulheres durante os banquetes — foi até Jesus para assim manifestar publicamente seu arrependimento e seu amor por Aquele que a havia transformado. Ali entrando, permaneceu aos pés do Salvador, e lhe ofertou o que de mais precioso possuía: suas lágrimas que, como sinal de penitência, lavaram aqueles Sagrados Pés; em seguida enxugou-Os com seus próprios cabelos; beijou-Os e por último, Os ungiu com o mais precioso perfume. Atos simbólicos de “seu coração que ela se empenhava em lançar todo inteiro no coração do Mestre” 13 . Tal veneração e escravidão mereceu como recompensa do Salvador as seguintes palavras: “seus numerosos pecados estão perdoados, porque ela muito amou” (Lc 7, 47) e “em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo o mundo o Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez” (Mc 14, 9).
Estando o Mestre em Betânia, Maria despreocupava-se de todos os assuntos da casa e permanecia aos Seus pés, ouvindo-O e admirando-O. Tinha o pensamento unicamente posto no Salvador, já que guardava um delírio de amor a Ele e não se interessava por outra coisa, a não ser o Mestre, que para ela era tudo 14 . Por esta razão, recebeu esse elogio: “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,42). Ou seja, desde que a pessoa se ponha a amar, o demônio não consegue tirar nada e “ninguém rouba aquilo que o amor constrói” 15 .
O Senhor concedeu imensos benefícios a Maria Madalena e distinguiu-a com sinais de predileção, infamou-a totalmente de amor por Ele e tornou-se íntimo dela.
Uma das características do enlevo é fazer com que o enlevado saia de si e se fixe em algo que lhe é superior 16 , por isso, Santa Maria Madalena “se une a Ele em todos os estados pelos quais Ele faz passar sua humanidade. Ela se une a Jesus vivendo (…), a Jesus sofrendo (…) a Jesus morrendo e a Jesus morto” 17 , de tal maneira, que acompanhou o Divino Mestre até na hora suprema do “Consummatum est”, quando todos O abandonaram. Mostrando que o enlevo verdadeiro é aquele que está disposto até ao holocausto, se isso for necessário, em favor do Amado.
Quando mataram a Nosso Senhor, ela — em contraposição aos discípulos, os quais “tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus” (Jo 20,19) — ia por todos os cantos, proclamando que haviam cometido um crime infame contra o Mestre, pois Este não tinha feito outra coisa senão o bem. Atraindo para si, o ódio de todo Sinédrio.
Sendo “a que mais fervorosamente amava o Senhor, (…) não podia conter-se de desejo de adorar e perfumar Seu sagrado Corpo” 18 . Por isso, já na madrugada do domingo, quando uma dama não podia estar andando pelas ruas, ainda sem o sol ter nascido, com verdadeiro empressement desejava chegar o quanto antes ao túmulo, para assim venerar o Corpo Daquele que era o objeto absoluto de seu encanto. Estava de tal modo inebriada de amor, que neste ato de “imprudência” nem sequer se preocupava com os guardas, nem com a pesada laje a ser removida.
Chegando ao túmulo, encontrou-o aberto e os soldados não estavam mais lá. Aproximou-se e não viu o Sagrado Corpo do Redentor, julgando que o tivessem roubado. Sua primeira preocupação foi a de informar aos Apóstolos, demonstrando a pureza de seu amor todo feito de sabedoria e amor à hierarquia. Saiu correndo rumo ao Cenáculo. “Com seu ardor sem medida, Madalena contagiou os Apóstolos, e estes, associando-se aos mesmos sentimentos de amor, temor e esperança, partiram cheios de ânimo” 19 . São Pedro e São João entraram na gruta, constataram que de fato o corpo não estava ali e saíram. Ela ficou, pois não possuia outro desejo a não ser o de empregar todos os meios para saber onde colocaram o Divino Corpo de seu Mestre. Estando nesta aflição, aparecem dois Anjos. Estes lhe dirigem a palavra, interrogando-a sobre o porquê de seu pranto. Ela, tomada de zêlo, afirma: “Levaram o meu senhor e não sei onde o puseram” (Jo 20, 13), declarando, com isso, sua posição de escrava e incitando-os, respeitosamente, a dizer onde é que puseram o Corpo ou a indicar onde ele pudesse estar. O amor é cheio de educação, de elegância; o amor, quando é autêntico e puro, leva a um trato elevadíssimo 20 .
Tendo dito isto, ela se volta para trás, e sem dar-se conta vê Nosso Senhor em pé, contudo, não O reconhece. E Nosso Senhor lhe pergunta: “Mulher, por que choras? Quem procuras?” (Jo 20,15). Jesus disse isto para fazer aumentar ainda mais o seu amor, pois este é passível de crescimento, ou de diminuição . E quanto mais a pessoa explicita o amor que tem, mais nele cresce. Por esta razão, era conveniente que Madalena externasse seu entusiasmo e enlevo.
Então, Jesus disse: Maria! (Jo 20, 16). Bastou que o Salvador pronunciasse seu nome para que ela O reconhecesse. Imediatamente, atira-se aos pés de Nosso Senhor. Este, porém, a impede, para que sua Fé e Caridade atingissem um grau mais eminente. Maria obedece de imediato, por se tratar de uma ordem de ‘seu Senhor’.
Quer dizer, ela procurava o Corpo, e o que encontrou? Encontrou o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Este é, justamente, o fruto do amor. Quando a pessoa deseja com muito amor, devoção, enlevo, e sobretudo, com labaredas de entusiasmo, especialmente quando se trata de algo ligado a Deus, recebe mais do que aquilo que procura. O Criador sempre concede muito mais do que se pede.
Durante as perseguições, Maria Madalena juntamente com seus irmãos foram postos em um barco à deriva que chegou em Marselha no sul da França onde pregou a doutrina de Cristo e converteu um bom número de pessoas.
Morreu em um local solitário nas montanhas de Sainte-Baume, onde vivia em contemplação e penitência.
Concluamos com as palavras cheias de veneração sobre Santa Maria Madalena de São Francisco de Sales : “Ainda que não a honremos como virgem, se levarmos em conta a eminentíssima pureza que guardou depois de sua conversão, deve ser chamada arqui-virgem, porque, uma vez purificada na fogueira do amor sagrado, recebeu tão excelente castidade, e tão perfeita caridade, que depois da Mãe de Deus, ela foi quem mais amou a Jesus Cristo. Amou-O com os serafins, e ao amá-Lo foi mais admirável que eles, pois os serafins obtêm o amor sem dificuldades e conservam, mas esta santa o adquiriu com grandes suores e cuidados e o conservou com temor e solicitude” 21 .
2 Cf. Clá Dias, João. Homilia sobre o enlevo. Caieiras: Igreja Nossa Senhora do Rosário, 9/5/2010.
3 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, II-II q.184, a.1.
4 Cf. ROYO MARÍN, op. cit., ibidem
5 Clá Dias, João. Homilia sobre Santa Maria Madalena. Caieiras: Igreja Nossa Senhora do Rosário, 22/07/2008, p.1-2
6 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Inocência e penitência. In: Dr. Plinio. São Paulo: Agosto, N.17, p.4, 1999.
7 CLÁ DIAS, João , op. cit., p.3
1 CLÁ DIAS, 2006, p.5(Arquivo IFTE)
8 OLLIVIER, P. Les amitiés de Marie. L’Ami du clergé. Paris: Mai, n. 20, 8v., p.328, 1896.
9 CLÁ DIAS, 2008, p.4(Arquivo IFTE)
10 OLLIVIER, P. Les amitiés de Marie. L’Ami du clergé. Paris: Mai, n. 20, 8v., p.329, 1896.
11 OLLIVIER, P. Les amitiés de Marie. L’Ami du clergé. Paris: Mai, n. 20, 8v., p.329, 1896.
12 OLLIVIER, P. Les amitiés de Marie. L’Ami du clergé. Paris: Mai, n. 20, 8v.,330, 1896.
13 Cf.CLÁ DIAS, 2006(Arquivo IFTE)
14 CLÁ DIAS, 2008, p.4(Arquivo IFTE)
15 Cf. CLÁ DIAS, 2010(Arquivo IFTE)
16 MAITRIER, J. Petit sermon pour la féte de Sainte Marie-Madeleine. L’Ami du clergé. Paris: Juillet, n.28, 4v., 433-435, 1892.
17CLÁ DIAS, 2008, p.13(Arquivo IFTE)
18 CLÁ DIAS, 2008, p.15(Arquivo IFTE)
19 Cf. CLÁ DIAS, 2008(Arquivo IFTE)
20 Cf. CLÁ DIAS, 2008(Arquivo IFTE)
21 SALLES, F. Obras Selectas. Madrid: BAC, 1953, 1v, p.432-433
BELISSIMA!que Deus faça de outros tantos santos como ela.
Santa Maria Madalena.Rogai por nós!
Achei maravilhoso. Estas leituras me ajudaram muito hoje. Obrigado
Inspirados por Santa Maria Madalena, que possamos também fazer essa bela experiência, reconhecendo o Senhor a partir da sua Santa Palavra, percebendo-o na vida dos irmãos e irmãs, que conosco caminham na comunidade.
Estou encantada, foi para mim o melhor momento do dia, leitura muito proveitosa. Obrigada
isto pra mim foi emocionante
I cannot tell a lie, that really helped.
This way is more helpful than anything else I’ve looked at.
gostaria de saber quando ela foi canonizada.obrigada.
Maravilhosa História de SANTA MARIA MADALENA POUCO SE SABE DESTA VENERADA SANTA QUE DEUS A PREMIOU POR SEU FILHO JESUS CRISTO O NOSSO SALVADOR O QUE NOS DEIXA ALEGRES É QUE SE DESFAZ DE TANTAS PESSOAS QUE CRITICAM AS IMAGENS OS SANTOS NÃO SABEM O SOFRIMENTO O AMOR QUE SEMPRE TIVERAM A DEUS A JESUS SANTA MARIA MADALENA QUE TODOS A JULGARAM MÁS O SENHOR JESUS NÃO A CONDENOU E ELA SOUBE SE AGARRAR ESTA FÉ E SEGUIR O MESTRE FIQUE IMPRESSIONADA UMA FÉ INABALÁVEL O AMOR PURO E VERDADEIRO DE SEGUIR O MESTRE
HÁ QUEM ELA MUITO O AMOU SANTA MARIA MADALENA ROGAI POR NÓS AMÉM
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Obrigada Santa Maria Madalena pelos inúmeros milagres que a senhora me concedeu e me concede sempre.Com certeza sua intercessão é tão poderosa que Nosso Senhor Jesus Cristo fica muito feliz em atende-la!