Sinal de uma Noite Feliz
São muitos os sinais que evocam, sob aspectos diferentes, o momento no qual os Céus se abriram para permitir a descida do Redentor, vindo ao mundo por amor aos homens.
A árvore de Natal, belamente enfeitada de bolas coloridas e feéricas luzes, lembra-nos, com seus presentes, o maior dom dado por Deus à humanidade: seu próprio Filho! No presépio representa-se a adoração que os Reis do Oriente renderam ao Menino Jesus, levando-Lhe ouro por ser o Rei dos reis, incenso por ser Deus verdadeiro em sua verdadeira humanidade, e mirra por ser o Redentor, que haveria de comprar com seu sofrimento a salvação dos homens.
Não podemos nos esquecer do menu da Ceia, parte importante da celebração natalina. Pensado com antecedência, ele procura simbolizar os manjares celestiais em torno dos quais se reúnem os bem-aventurados no Céu empíreo, a fim de propiciar uma conversa amena e um convívio agradável.
Mas talvez o que mais fale à alma sejam as músicas natalinas, pervadidas de inocência e transbordantes de afeto para com o Deus Menino nascido em Belém. E, entre todas, expressando por excelência o significado do Natal, está o Stille Nacht.
Conta a tradição haver nascido esta famosa canção do coração de dois homens. Um deles foi o padre Joseph Mohr, a quem podemos imaginar no pequeno povoado austríaco de Obendorf, no ano de 1818, preparando seu sermão para a Missa do Galo. Eis que, enquanto ele se encontrava imerso na leitura das Sagradas Escrituras, deitando toda sua atenção sobre elas, tocou à sua porta uma camponesa pedindo-lhe ir abençoar o bebê recém-nascido de um lenhador.
O sacerdote agasalhou-se e acompanhou a boa mulher. Pelo caminho, permanecia absorto, pensando na homilia que haveria de pregar, mas ao chegar à humilde cabana, o cenário com que se deparou marcou-o profundamente. Banhado por débil luz e aquecido por fraca lareira, um leito simples acolhia a jovem mãe com o recém-nascido doce e serenamente adormecido em seus braços, aguardando ser abençoado.
Quanta paz! Quanta inocência! Quanta presença do sobrenatural havia naquela singela cena!
No retorno, um poema fluiu com extrema facilidade de sua pena descrevendo os sentimentos que embalaram sua alma na pobre choupana. Estava escrito o Stille Nacht!
Na manhã seguinte, o padre Mohr se dirigiu à casa de seu grande amigo, Franz Gruber, professor de música do lugar, e mostrou-lhe as linhas que havia escrito. Gruber se encantou com a poesia e, inspirado por sua natalina beleza, logo compôs uma melodia para ela.
A partir daí, aquela que marcaria a História como a canção de Natal arquetípica foi sendo difundida aos poucos pelo mundo. E não foram as belas vozes dos cantores nem o melodioso som dos instrumentos que a consagraram, mas sua virtude para impregnar de candura natalina os ambientes onde ela é entoada.
Saibamos aproveitar este tempo de Natal, pervadido de bênçãos e inocência, para ver, nas fragilidades de um Deus feito Menino, o Senhor e Criador do Universo. Que nossos sentimentos de ternura e compaixão ao contemplar sua infantil pequenez estejam cumulados de reverência e veneração, junto com o ardente desejo de que todos os homens Lhe entreguem suas vidas, sua vontade e todo o seu ser.
Peçamos também a graça de ser inocentes, a fim de podermos entender a fundo o verdadeiro significado do que aconteceu na gruta de Belém. E deixemos que os acordes do Stille Nacht nos transportem misticamente à noite do nascimento do Divino Rei, para podermos rejubilar de alegria com toda a natureza, porque o Invisível se tornou visível, por sua Divina Humanidade, em uma “noite feliz”!