Pode existir uma santa pressa?

angelico29Maria Teresa Matos

No mundo atual, não há quem não tenha tomado contato, visto, e mesmo experimentado a pressa.

Corre-se para não chegar atrasado em um compromisso, corre-se para fazer um negócio e lucrar muito dinheiro, corre-se atrás de bons estudos e da boa fama. Enfim, corre-se a todo o momento e por qualquer motivo. As invenções técnicas e científicas, como automóveis, aviões, celulares e internet concorreram para acelerar, ainda mais, o ritmo de vida.

O homem contemporâneo bem poderia ser qualificado de ‘o homem do corre-corre’, que depois de tanto correr, nada alcançou além de decepções, frustrações e calamidades.

Alguém, deformado pelos conceitos hodiernos, abrindo as páginas do Evangelho, encontraria dificuldades em compreender esta curta, mas intensa frase: “Naqueles dias, Maria levantou-se e dirigiu-se apressadamente às regiões montanhosas da Judéia” (Lc 1, 39).

Qual seria a razão de uma jovem, consagrada ao Templo desde a sua infância e criada nas sublimes delícias da contemplação, lançar-se de tal modo na ação? Ademais, acabara de se dar o acontecimento ápice, não só da vida dela, mas de toda a História: concebera pela ação do Espírito Santo. Ou seja, em suas entranhas puríssimas, o próprio Filho Unigênito de Deus, gerado e não criado, consubstancial ao Pai, para nossa salvação, assumira nossa carne. Aquele a quem os céus não podiam conter, encerrara-se no seio de Maria. Haverá graça mais sublime? Existirá ocasião mais propícia para os mais altos êxtases? Que meditações e contemplações não poderiam derivar desse convívio?! Não seria a hora d’Ela recolher-se e aproveitar os nove meses de intimidade mais completa e absoluta com Seu Filho e Seu Deus?

Entretanto, o Evangelho nos narra ter a Virgem, logo após a Anunciação, levantado e se dirigido apressadamente até a Judéia, empreendendo essa viagem a fim de ajudar sua prima Isabel.

Que pressa era esta que a movia? Algum interesse pessoal? Poderia se cogitar, sem blasfemar, que na alma imaculada de Maria existisse alguma agitação?

Como resposta a essas perguntas, bem poderíamos pôr nos lábios da Virgem as palavras do profeta Elias: “Zelus zelatus sum pro Domino Deo Exercituum” (1Rs 19,14). Sim, o zelo pela causa de Deus a consumia, tomava todo o seu ser e impulsionava-a, se necessário fosse, a correr por toda a Terra para servi-lO e glorificá-lO.

Essa viagem era empreendida por Ela sem abandonar em nenhum instante a clave altíssima de suas contemplações. Maria queria servir sua prima, não por afeição familiar ou mera filantropia, mas por amor a Deus. A virtude da Caridade a levava a ajudar Isabel e o menino João, corporal e espiritualmente, santificando a criança ainda no ventre materno e produzindo em sua prima extraordinárias manifestações de enlevo e admiração pelo Messias ali presente.

Portanto, qual é a diferença entre essa santa pressa de Maria Santíssima na visitação a sua prima santa Isabel e a pressa do mundo moderno?

Hoje corre-se, impaciententemente, por interesse próprio, enquanto Nossa Senhora indicou que os homens devem ser pressurosos na caridade, uns para com os outros, auxiliando com entusiasmo, sem egoismo ou delongas, a que se encontre já nesta Terra o Caminho, a Verdade e a Vida.

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