Diante do Divino Mestre
Bruna Almeida Piva
1º Ano Ciências Religiosas
Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam. Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham. E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.
Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda? Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!
Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens. Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: Quem poderá então salvar-se? Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível. (Mt 19, 13-26)
Nesta passagem do Evangelho, rica em significados, podemos notar duas interessantes disposições de alma: a das criancinhas e a do jovem rico. Aquelas aceitam e se deleitam com a divina influência do Salvador, e também Lhe dão alegria; este rejeita o convite para ser apóstolo, deixa Nosso Senhor, entristecendo-O. Nas duas ocasiões, Nosso Senhor demonstra uma bondade sem limites e um carinho comovente; porém, obtém duas reações opostas. Por quê?
Embora, aparentemente, os dois fatos nada tenham de comum entre si, analisando-os bem, vemos que decorrem de um só, mas fundamental, princípio de vida espiritual: a salvação não é fruto do esforço; não se santifica quem procura, diante de Deus, se apoiar em suas próprias obras e méritos. E é justamente esta a disposição de alma das criancinhas: “Quem é pequeno não se julga um colosso nem autossuficiente, mas dependente”.1 Tudo o que precisa, a criança pede aos pais; busca-os infalivelmente em suas dificuldades, não porque se julgue digna de ser atendida – porque não é capaz de nada sozinha –, mas porque só confia neles; não busca ser grande nem independente, mas somente amá-los, e ser por eles também amada; por mais que a castiguem, busca-os e os prefere entre todos os outros.
É o principal motivo pelo qual as criancinhas agradam tanto a Nosso Senhor: a confiança com que se aproximam d’Ele e a sua grande inocência, que as torna capazes de abandonar-se cegamente aos seus divinos cuidados.
Como terá sido o convívio do Redentor com aqueles pequeninos? Talvez Ele os tivesse abraçado, lhes imposto as mãos, concedendo saúde, força, sabedoria e graças incontáveis; e elas com sua vivacidade infantil, certamente fizeram um alvoroço em volta d’Ele…2
Eis, portanto, o que Ele nos quer dizer nesse Evangelho, quando afirma que se nos fizermos “como criancinhas” em nosso relacionamento com Deus, nosso Pai – e com Nossa Senhora, nossa Mãe –, somente assim, entraremos no Reino dos Céus.”
Bem outra, entretanto, foi a reação do moço rico ante o chamado do Divino Mestre. Vê-se que ele buscava se apoiar na prática dos Mandamentos, que dizia ter sempre observado: “Tenho observado tudo isto desde a minha infância”. Porém, isso não suficiente. Nosso Senhor queria dele algo mais, a única coisa que importa realmente: que ele Lhe entregasse o coração. A Infinita Misericórdia buscava não as boas obras somente, mas simplesmente o amor daquela alma. Algo tão natural e fácil para os pequeninos, mas que ele, tão “justo”, não soube dar.
Aquele jovem infeliz pediu a vida eterna; no fundo, achava que esta lhe seria concedida porque observava os artigos do decálogo e era, portanto, bom. Não esperava na misericórdia divina, mas em seu próprio esforço. Porém, nenhum homem pode merecer o Céu, porque “aos homens até isto é impossível.”
Não é verdade que se ele fosse como as criancinhas e dissesse; “Senhor, eu não mereço nada, mas, por compaixão, dai-me a vida eterna!”, teria certamente alcançado o Reino de Deus? Não teria ele sido incomparavelmente mais feliz escolhendo a via do amor, a via dos pequeninos?
Portanto, clara está a resposta à pergunta dos Apóstolos: “Quem poderá, então, salvar-se?” Os que se fizerem como crianças e, livres de toda a riqueza, se jogarem nos braços de Nosso Senhor, que sem dúvida é o melhor de todos os pais e nos ama infinitamente mais do que todos eles.
1 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. A inocência, a eterna lei… In: O inédito sobre os Evangelhos. Città del Vaticano-São Paulo: LEV; Lumen Sapientiæ, 2014, v.IV, p.415.
2 Cf. Ibid., p.414.
Salve Maria!
Ser como criança significa também ser inocente, isto é, ter alma semelhante a um cristal que nunca foi riscado.
Revista Arautos do Evangelho, outubro de 2015.