O mais precioso perfume
Irmã Angelis Ferreira, EP
Na mesma linha, lê-se no livro do Apocalipse: “Depois veio outro anjo e parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro. Foram-lhe dados muitos perfumes, a fim de que oferecesse as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus” (8, 3-4).
Uma história de mais de três mil anos
A utilização dessa essência no culto divino provém de uma prescrição feita pelo Senhor a Moisés, na mesma ocasião em que Este lhe entregou, no Monte Sinai, as Tábuas da Lei. O próprio Deus lhe ditou como deveria ser feito:
“Toma aromas: estoraque, ônix, gálbano de bom cheiro, incenso lucidíssimo, tudo em peso igual. Farás um perfume composto segundo a arte de perfumador, manipulado com cuidado, puro e digníssimo de ser oferecido. E, quando tiveres reduzido tudo a um pó finíssimo, pô-lo-ás diante do tabernáculo do testemunho, no lugar em que eu te aparecer. Este perfume será para vós uma coisa santíssima” (Ex 30, 34-36).
Deus não deixa a menor dúvida de que essa essência odorífera deveria ser usada exclusivamente para o esplendor do culto divino: “Todo homem que fizer uma composição semelhante para gozar de seu cheiro, perecerá no meio do seu povo” (Ex 30,38).
Assim, obedecendo ao que Deus determinou a Moisés, o povo eleito queimou durante vários séculos, pela manhã e pela tarde, em homenagem ao Senhor um incenso de suave fragrância.
No Novo Testamento, ele surge já nos primeiros dias do Menino Jesus. Entrando os Reis Magos na casa onde estava Ele com sua Mãe, prostraram-se e O adoraram, em seguida abriram seus tesouros e lhe ofereceram ouro, incenso e mirra. “O incenso era para Deus, a mirra para o Homem e o ouro para o Rei”, diz São Leão Magno (Sermão n. 31). Portanto, dos três dons oferecidos, o de maior valor simbólico era o incenso.A serviço do esplendor da Liturgia
Devido ao fato de os povos pagãos costumarem queimar todo tipo de perfumes em seus cultos idolátricos, por cautela a Igreja demorou certo tempo em admitir seu uso nas cerimônias litúrgicas.
Logo, porém, que a Liturgia começou a se desenvolver, ele fez seu aparecimento. Assim, nas primeiras décadas do quarto século, o Imperador Constantino ofereceu à Basílica de Latrão dois incensórios, feitos de ouro puro, os quais provavelmente permaneciam fixos em seus lugares e eram usados para perfumar o lugar santo.
O Papa Sérgio I (687–701) mandou dependurar na igreja um grande incensador de ouro para que, “durante as Missas solenes, o incenso e o odor de suavidade se elevassem mais abundantemente para o Deus Onipotente”.
Surgiu depois o turíbulo, mas, de início, sua utilização consistia apenas em ser levado pelo subdiácono à frente do cortejo litúrgico, perfumando o percurso do celebrante na entrada e na saída da Missa, e na procissão do Evangelho.
No correr do tempo, com o aperfeiçoamento das celebrações, instituiu-se a incensação no momento do Evangelho, depois no Ofertório e, por fim, no séc. XIII, na elevação da hóstia e do cálice.
Atualmente a incensação durante a Missa é facultativa, podendo ser feita durante a procissão de entrada, no início da Celebração, na proclamação do Evangelho, no Ofertório, e na elevação da hóstia e do cálice após a Consagração (cf. IGrMR, 235).
Efeitos e finalidades
O celebrante põe incenso no turíbulo e o benze com o sinal-da-cruz. Essa bênção faz dele um sacramental, isto é, um “sinal sagrado” mediante o qual, imitando de certo modo os sacramentos, “são significados principalmente efeitos espirituais que se alcançam por súplica da Igreja” (CIC nº 1166).
Um desses efeitos pode ser verificado no motivo da incensação do altar e das oferendas, na Missa. Incensa-se o altar para purificá-lo de qualquer ação diabólica, e as oferendas para torná-las dignas de serem usadas no Mistério Eucarístico.
O incenso é primordialmente um ato de homenagem a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como aos homens e objetos consagrados ao culto divino.
Segundo São Tomás de Aquino, a incensação tem duas finalidades. A primeira é fomentar o respeito ao sacramento da Eucaristia, já que ela serve para eliminar, com um perfume agradável, os maus odores que poderiam existir no lugar. A segunda, representar a graça, da qual, como um bom aroma, Cristo estava cheio.
Por fim, o carvão aceso no turíbulo e o perfume que se evola servem também para nos advertir que, se queremos ver nossas orações subirem assim até o trono de Deus, devemos nos esforçar para ter o coração ardente com o fogo da caridade e da devoção.
Salve Maria !
Lembro-me, lendo estas linhas, da dedicação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário no Tabor. O incenso formava uma nuvem que se elevava ao Céu e todos percebemos, perplexos, naquele momento belíssimo a presença, quase física, do Altíssimo.