E renovareis a face da Terra…
Irmã Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP
Nos dias de hoje, em nosso Ocidente cristão, não vemos mais aqueles templos destinados à adoração dos ídolos, pobres imagens feitas por mãos humanas. Pelo contrário, passados quase dois mil anos de pregação apostólica, continuada fielmente pelo Magistério, erguem-se agora numerosos templos cristãos, ostentando no alto de suas torres o glorioso símbolo da cruz.
Entretanto, se a confissão de um só batismo e a crença na Trindade reúnem os cristãos, não faltam aqueles para os quais o Espírito Santo poderia chamar-Se o “Deus desconhecido”. Semelhantes aos discípulos de Éfeso que, interrogados por Paulo, responderam: “Nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo” (At 19, 2), muitos são hoje os que, sem chegar a esse extremo, desconhecem as características e os poderes do Paráclito e se esquecem de invocá-Lo.
Quanto mais O conhecemos, mais O amamos
No Antigo Testamento, a humanidade ignorava a existência de Três Pessoas em uma única Essência Divina; e se algumas expressões dos Livros Sagrados faziam vislumbrar esse conhecimento, eram apenas lampejos de uma Revelação que Deus Se reservava transmitir por meio de Seu Filho, na plenitude dos tempos.
Errôneo seria julgar que a doutrina sobre o Espírito Santo não deveria ser difundida entre os fiéis, por temor de causar confusões ou desvios. Não foi este o exemplo dado pelo Salvador, ao prometer a vinda do Paráclito ou ao explicar tal mistério ao velho Nicodemos, que não chegava a compreendê-lo. Também não foi essa a conduta observada pelos discípulos de Jesus ao escreverem repetidas vezes sobre a ação e a presença da Terceira Pessoa Divina no seio da Igreja.
Em sua Encíclica Divinum illud munus, o Santo Padre Leão XIII exortava aos pregadores a ensinar e inculcar essa devoção no povo cristão, visto que seus frutos haviam se revelado abundantes e profícuos:
“Insistimos nisso não só por tratar-se de um mistério que nos prepara diretamente para a vida eterna e que, por isso, é necessário crer firme e expressamente, mas também porque, quanto mais clara e plenamente conhecemos o bem, mais intensamente o queremos e o amamos. Isso é o que agora queremos recomendar-vos. Devemos amar o Espírito Santo, porque é Deus: ‘Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças’ (Dt 6, 5). E deve ser amado porque é o Amor substancial eterno e primeiro, e não há coisa mais amável que o amor; portanto, tanto mais devemos amá-Lo quanto Ele nos cumulou de imensos benefícios que, se testemunham a benevolência do doador, exigem a gratidão da alma que os recebe” (Divinum illud munus, 13).
Entender como coração, e não apenas com o intelecto
Ao procurar nos aprofundar no conhecimento desse Divino Espírito, a quem a Igreja invoca como “Luz dos corações”, façamo-lo não apenas por um exercício do intelecto, mas compreendendo, sobretudo, o coração.
A inteligência,como explica São Tomás, é potência régia e imóvel: traz a si o objeto sobre o qual ela se aplica e o torna proporcionado à sua capacidade. Se esse objeto é superior à razão, ela forçosamente o diminuirá ao adaptá-lo a si. A vontade percorre o caminho inverso: naturalmente inclinada à entrega e à doação de si mesmo, ela voa até o objeto e adquire suas proporções. Quando este se manifesta superior, eIa se alarga e cresce até tomar as suas medidas.
Ora, no caso do Espírito Santo, não se trata de um objeto apenas superior ao pobre entendimento humano, mas de um Ser infinitamente distante de nossa frágil natureza. É necessário voarmos a Ele com a vontade, amando-O sem medida até nos tornarmos “deuses” como Ele mesmo afirma nas Escrituras (cL SL 81, 6; Jo 10, 34-35). Deste modo, estaremos aptos para anunciá-Lo àqueles que ainda não O conhecem, conforme a expressão de Lacordaire: “ La raison ne fait que parler, c’est l’amour qui chante!”– A razão só sabe falar, é o amor que canta!
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