Beleza: transcendência que leva a Deus
Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP
No entanto, o homem, enquanto ser, também tem em si os transcendentais e sua vida não é uma mera sucessão de feitos e experiências. Sendo racional, sua vida é a busca da verdade, do bem e da beleza. E para esse fim, exerce sua liberdade, pois aí se encontra sua alegria. Sendo composto de corpo e alma, matéria e espírito, inseparáveis, necessita das exterioridades para através dos sentidos conhecer o mundo não só por sua inteligência, mas também pela sua vontade e sensibilidade.
O simbolismo é, portanto, universalmente humano, comum a todas as culturas; entre os homens a linguagem figurada é o natural. Os sentidos são alcançados por essa linguagem e a audição, visão, olfato e tato, são especialmente tocados pela beleza do materializado. Inicialmente, pela beleza das coisas criadas, para depois encontrar o sentido na luz do fundamento de toda a beleza, a beleza Suprema, autora de todas as outras. Assim, do homo simbolicus,considerado pela perspectiva antropológica do Sagrado, visualiza-se o homo religiosus, porque o homem é religioso em sua natureza.
Santo Agostinho dizia que as coisas criadas de si mesmas falam de Deus. E essa foi uma das principais preocupações dos filósofos, que pela “arte” conhece-se o “Artista”. Para ele, a beleza das coisas revelam a Deus, pois “se as coisas que fez são tão belas, quanto mais belo é Aquele que as fez”. Bento XVI, na Austrália, lembrou aos jovens da Jornada Mundial da Juventude esse pensamento e comentou que vendo a diversidade da natureza, do mar Mediterrâneo, passando pelo deserto Africano e pelas florestas asiáticas, até a vastidão do Pacífico, sentiu um reverente temor, porque à frente de tal beleza só poderia repetir as palavras do salmista: “Senhor, nosso Deus, quão admirável é o teu nome em toda a terra” (Sl 8. 2).
Ao longo do tempo, o homem foi materializando e exteriorizando sua concepção artístico-religiosa através dos símbolos, da arte, arquitetura, música e ritos, construindo sua cultura. No Ocidente, a base desta foi o cristianismo. Não foi por mera casualidade que os povos cristãos têm sido, de longe, os mais inovadores e criativos em todos os campos da cultura.
Assim, a realidade construída por símbolos, mostrava a arte como uma forma de conhecimento tão séria como a ciência. Mas Kant a divorciou desta, abrindo a era do racionalismo puro; o conhecimento passou a ser empírico, ajustando-se às experiências do homem, e a beleza tornou-se subjetiva. No século XVIII, com Alexander Baumgarten, surgiu o termo estética, de origem grega, significando sensação, sentimento.
Isso gerou a estetização do mundo. No século XIX, cultura passou a significar o progresso humano contínuo e ascendente, acrescentando os conhecimentos do homem, refletidos no crescimento da filosofia, da ciência e da estética. Mas, atualmente, a cultura sofreu tantas transformações, que não se sabe bem para onde o mundo caminha, tudo depende da sensação e do mercado. A Estética separou-se completamente da cultura e da religião, perdendo a memória histórica da humanidade. Segundo Paulo VI: “o divórcio entre o evangelho e a cultura é sem dúvida o drama do nosso tempo”.
Na concepção Tomista, beleza é o que agrada a vista enquanto harmonioso e proporcional. Os sentidos se comprazem nas coisas bem proporcionadas, estando de acordo com a razão, uma vez que beleza é o amor que faz ver a verdade e o bem de todas as coisas . É belo tudo o que realiza sua natureza ideal. Já a feiúra é a ausência de beleza, o que não está de acordo com um fim.
A perspectiva contemporânea e subjetiva de estetização do mercado é : o que me apraz é belo e o que não me apraz é feio. Passa a existir um julgamento do gosto, mediante o qual adota-se uma atitude ante o objeto estético que não é o assentimento dado a uma verdade (lógica), nem a aprovação ou desaprovação que se faz de uma ação (ética). É uma espécie de agrado ou desagrado estético que se expressa em um julgamento: agrada-me, apetece-me, não me agrada, não me apetece.
O caos do mundo hodierno, provocado pela confusão nas mentes, também confundiu a beleza em si com a mera estética. A globalização é uma realidade e apresenta um mundo que não é senão a estética da saturação, do excesso, da máxima informação no mínimo de espaço e de tempo. A sociedade, assim globalizada, norteada por constantes e profundas renovações tecnológicas, perdeu a crença nos mega-relatos e na racionalidade como fundamento do conhecimento. Nela se despertam a subjetividade e a emoção, a virtualidade, as sub-culturas crescentes, favorecendo uma nova percepção cosmológica da realidade .
O homem ― crendo-se senhor de si mesmo ― se deixou enganar e passou a ser visto como mero consumidor no mercado de possibilidades indiferenciadas, onde a escolha em si mesma passou a ser o bem, a novidade aparenta ser a beleza e a experiência subjetiva suplanta a verdade.
Assim, o belo perdeu seus fundamentos e se reduziu a bem de consumo. No grande mercado da “aldeia global” atual desapareceram os signos de beleza: a máscara da propaganda parece triunfar sobre a verdade e a beleza últimas, revelando sua aparente “morte”. Em um mundo sem beleza, o bem perde sua força de atração e a verdade sua força de conclusão lógica.
É preciso reeducar as pessoas da “civilização da imagem”, ensinando por meio do belo a praticar a admiração e o elevar-se ao Criador, ao mesmo tempo metódica e degustativamente, partindo da figura e tendendo, por meio desta, a uma reflexão que nunca se distancia inteiramente da imagem, nem sequer no seu ponto terminal . A beleza tem um força pedagógica própria quando introduz eficazmente no caminho da verdade . É preciso descobrir o invisível a partir do visível. Este é o papel da beleza e da ordem, buscando as qualidades do Universo que impulsionam a olhar para o alto, onde está a beleza, libertando o homem das cadeias da massificação. Ela se manifesta nas multiformes maravilhas da natureza, mas também se traduz nas obras humanas, reflexos de seu espírito ― obras de arte, literatura, música, pintura e artes plásticas ―, bem como se faz apreciar, sobretudo, na conduta moral, nos bons sentimentos.
Hoje se necessita da beleza para não cair no desespero ― já dizia Paulo VI , no final do Concilio Vaticano II ―, e este é o caminho para encontrar a verdade e a bondade, que estão no coração do Evangelho. A beleza provoca emoções, põe em movimento um dinamismo de profunda transformação interior no homem, engendrando alegria e sentimentos de plenitude, desejo de participar livremente na mesma beleza, que passa a fazer parte de seu próprio interior, integrando-a em sua existência concreta . Só a espiritualidade da beleza pode reencontrar a Beleza Suprema.
A estética da mensagem determina a sua eficácia. “O belo que se comunica belamente chega mais rápido e mais profundamente ao receptor. A beleza comove e move o coração. A salvação para este mundo estetizado é a espiritualidade da beleza para, assim, reencontrar a beleza.
Escreve João Paulo II em sua carta aos artistas: “Ante a sacralidade da vida e do ser humano, ante as maravilhas do universo, a única atitude apropriada é o assombro, e a beleza é o que pode provocar este assombro que entusiasma. Os homens de hoje e amanhã têm necessidade deste entusiasmo para afrontar e superar os desafios cruciais que se avistam no horizonte. Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que a ‘beleza salvará o mundo’. A beleza é o segredo do mistério e a chamada ao transcendente”.
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