O caleidoscópio divino

Ir Maria Teresa Ribeiro Matos, EP

Gira-se, gira-se, gira-se e sempre novas figuras aparecem. Ora uma linda rosácea dourada com matizes vermelhos, ora a moldura é rubra com pequenas florzinhas verdes, ora é a cor azul que sobressai dando uma especial nobreza à figura. A maravilha das cores brincando com a variedade das formas que se contempla num caleidoscópio não podem deixar de refletir, de maneira toda especial, a beleza da História da espiritualidade regida pelo próprio Deus.

Movidos pela graça divina, homens e mulheres, ricos e pobres, nobres e plebeus, jovens e anciãos deram seu contributo particular nessa história do relacionamento de Deus com os homens.

Suscitadas algumas vezes dentre famílias de almas, com as “cores” próprias de sua ordem religiosa, essas pessoas formam, entretanto, no decorrer de suas vidas de santidade, “figuras” singulares e especiais.

Vemos já no início da Igreja surgir, de dentro do colégio Apostólico, uma alma fogosa e contrita como a de São Pedro, ao lado de outra, contemplativa e altamente teológica, como a do discípulo amado.

Ou então, poderíamos admirar,no decorrer do quarto século, a intrepidez e a audácia de um Santo Atanásio combatendo, ainda enquanto diácono, a heresia ariana, apoiado pelo venerável anacoreta, Santo Antão que levava uma vida austera embebida de altas graças místicas.

Não passaria inadvertida aos nossos olhos a figura de um ex maniqueu que a Bondade Divina transformou nos maiores luminares da Igreja: Agostinho, bispo de Hipona.

Como esquecer as figuras tão luminosas, mas tão distintas dos fundadores, que penetraram seus discípulos e suas obras com carismas e “cores” peculiares? Em Subiaco, vemos o monge Bento de Núrsia, primando pelo trabalho e pela contemplação, “ora et labora”, e dando origem a uma família de almas da qual sairia todo o esplendor da Idade Média. Séculos depois, em Toulouse, um santo pregador, contra a heresia cátara, funda a ordem dos pregadores que seria a ponta de lança de todas as argumentações e pensamento doutrinário da Santa Igreja. Contemporâneo a ele, o “poverello” de Assis reúne os amantes da pobreza, e, pelo exemplo, arrasta reis e nobres pela via da austeridade e penitência.

Não seria demasiado lembrar a grande Teresa de Ávila, que aconselhando suas filhas a serem varões , reforma o Carmelo e lhe dá a verdadeira figura. Ou, o nobre herdeiro da casa de Loyola que renuncia seus títulos para seguir uma vida religiosa militante, recrutando as melhores vocações e formando a Companhia de Jesus para a maior glória de Deus.

Todas essas maravilhas e outras incontáveis, promoveu Deus ao longo da História como fruto do preciosíssimo Sangue de Seu Filho. A plenitude dos efeitos desse Sangue, porém, não se fizeram sentir ainda na História. Que feeria não aparecerá, que novas figuras não surgirão no “caleidoscópio divino” quando o Divino Artífice fizer sentir nas almas e na História a plenitude do relacionamento com ele, fruto do efeito total do sacrifício de Cristo? Qui vivra,vera.

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