Nos umbrais da morte

Ariane Heringer Tavares

Em um hospital militar, onde se encontram alguns dos feridos durante os combates da Primeira Guerra Mundial, podem-se presenciar cenas que demonstram tão alto grau de heroísmo quanto no próprio campo de batalha. Os que lá deram mostras de coragem, aqui não deixam de manifestar sua fortaleza de alma.

Sentindo que a morte se aproximava, um dos moribundos sentiu a necessidade de purificar sua alma antes de comparecer diante do Supremo Juiz. Ao ver uma das freiras que cuidavam dos feridos passar ao lado de seu leito, o pobre pecador chamou-a e pediu um padre. Contudo, naquele momento, não estava ali nenhum sacerdote.

A religiosa, percebendo que o soldado poderia falecer a qualquer momento, antes mesmo de receber a absolvição, sussurrava em seu ouvido palavras de contrição, ajudando-o a arrepender-se. Porém, não conseguindo conter sua emoção, exclamou:

— Não é possível que aqui não haja nenhum padre que possa atender este homem em confissão!

Ouvindo a queixa, um dos pacientes comunicou-lhe que no fundo do quarto havia um sacerdote-soldado, mas estava tão mal que não teria forças para atender o pobre moribundo.

A religiosa correu ao leito do sacerdote e constatou que estava com o corpo completamente paralisado. Vivo, porém a um passo da morte. Apesar disso, encheu-se de esperança, e confiando no impossível, perguntou:

— Padre, o senhor me ouve?

Para surpresa de todos os olhos do sacerdote se entreabriram. A freira, compreendendo que lhe restavam poucos momentos de vida, transmitiu-lhe o pedido de confissão. Lentamente, quatro enfermeiros ergueram a cama e levaram-na para junto do enfermo que o solicitara. Os dois moribundos tinham consciência de que podiam morrer a qualquer instante.

E chegado o momento da absolvição. O sacerdote lutava contra a própria natureza a fim de erguer a mão sobre o soldado arrependido e traçar o sinal da cruz, que consumaria o perdão. Apesar de todos os esforços, a mão permanecia imóvel, sendo impossível levantá-la sem a ajuda de alguém. Com um olhar, pediu auxílio à religiosa para levantar o braço e, dessa forma, terminar de cumprir o seu ministério. Pronunciou as decisivas palavras: “Ego te absolvo a peccatis tuis in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti”.

Ante a admirável grandeza desse ato divino, os enfermeiros caíram de joelhos e os feridos ergueram-se em seus leitos a fim de assistirem a tão magnífica cena.

Cumprida a missão, expirou não só o sacerdote, como também aquele a quem acabara de salvar. Obedecendo ao chamado do Mestre, ambos os soldados partiram, e, juntos, cruzaram os umbrais da eternidade.

One response to “Nos umbrais da morte”

  1. gostaria que os srs.me esclarecessem o que realmente quer dizer e o que é o UMBRAL DA MORTE. A igreja catolica só fala em umbral ,mas não esplica o que é ,e como é este estagio.
    grato

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