Maria, Sansão e o favo de mel
Irmã Maria Alice Pinheiro Lisboa Miranda, EP
Nas suas constantes quedas na idolatria, o povo israelita sofria castigos impostos por Deus, a fim de trazê-lo de volta ao bom caminho. Entregue às mãos dos seus inimigos, o povo eleito ficava reduzido à escravidão, e lembrava-se, então, de clamar ao Senhor pedindo misericórdia. Como resposta a esses clamores, Deus suscitava entre os hebreus heróis extraordinários, chamados juízes, que os libertavam e os guiavam à conversão, levando-os a invocar ardentemente seu único e verdadeiro Senhor.
Em certa época, tendo os israelitas se afastado de Deus, foram submetidos aos filisteus, por quarenta anos. Para livrá-los do cativeiro, Deus suscitou como juiz o forte Sansão.
Assim contam as Escrituras:”Sansão desceu com seu pai e sua mãe à cidade de Tamna. Quando chegaram às vinhas da cidade, apareceu de repente um leão rugindo que se arremeteu contra ele. O espírito do Senhor apossou-se de Sansão, e ele despedaçou o leão como se fosse um cabrito, sem ter coisa alguma na mão” (Jz 14, 5-6).
Alguns dias depois, retornando à cidade, “Sansão afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão. Mas eis que na boca do animal estava um enxame de abelhas e um favo de mel. (…) Tomou o mel nas mãos e ia comendo-o pelo caminho; e, tendo alcançado os seus pais, deu-lhes, também, do mel” (Jz 14, 8-9).
Da pena de autores católicos nasceram esplêndidos comentários relacionando o favo de mel com a Santíssima Virgem. Vejamos alguns: “Como o favo traz o mel, Maria, ainda que possuidora de uma natureza mortal, trouxe dentro de si a Jesus, autor da vida. Não podia, pois, o celestial mel querer outro favo que não fosse o puríssimo e alvíssimo favo do imaculado seio de Maria.” 1 Além disso, tendo o favo de mel sido extraído do cadáver de um leão, é-nos ressaltada a imagem da vida que se encontra no próprio seio da morte: de Maria veio o Salvador do mundo, que tirou toda a humanidade da morte produzida pelo pecado, dando-nos a vida e a salvação.
No favo de mel colhido por Sansão podemos perceber, também, um símbolo da extrema e incomparável doçura de Nossa Senhora.
Com efeito, em Maria jamais houve dureza, frieza nem inconstância de ânimo, mas somente a amenidade, a beleza e a constante cordialidade perfeita, movidas pela graça. Quão doce e amável era Ela na casa de São Joaquim e de Sant’Ana, no templo de Jerusalém, no exílio, em Nazaré, durante a Paixão e durante sua permanência na terra após a Ascensão! Aproximar-se d’Ela, vê-La, ouvi-La, era indizível felicidade!
Agora, do mais alto dos Céus, continua a emanar de Maria toda sorte de benevolência e de bondade, atraindo todos seus filhos e filhas. Ela é a Virgem melíflua, cuja suavidade atrai toda alma que para Ela se abre: “Se a doçura está em proporção com a pureza e com a caridade, que auge de perfeição não atingiu a doçura de Maria, a mais pura, a mais humilde e a mais amável das criaturas?”2
A Santa Igreja, em sua liturgia, não deixa de ressaltar essa amabilidade de Maria, nestes breves, mas expressivos termos: “Vossos lábios são como um favo de mel que destila a suavidade; o leite e o mel estão sobre vossa língua, tanto vossas palavras são deliciosas.”3
Como verdadeiros filhos de Maria Santíssima, deixemo-nos envolver por tão excelsa e inefável doçura e peçamos a Ela que desperte nossa entusiasmada admiração, nossa confiança sem limites n’Ela e, sobretudo, que procuremos imitá-La em cada momento de nossa existência.
1Pequeno Ofício da Imaculada Conceição – em latim e português com comentários, Edições Paulinas, São Paulo, 1956, p. 114.
2) Pe. Ch. Rolland, La Reine du Paradis, L Ami du Clergé, ’ Langres, 1910, t.1, pp 581-582.
3) Apud Pe. Ch. Rolland, op. Cit.