Os frutos do recolhimento

Ir Ariane Heringer Tavares

Para que um mestre desempenhe com propriedade o ofício de ensinar, um conferencista realize com sucesso sua exposição, ou ainda um sacerdote obtenha  excelentes frutos espirituais com suas homilias e retiros, é indispensável que haja antes um período de preparação e estudo que os proporcione  um conhecimento mais amplo a respeito daquilo que transmitirão,  podendo, assim, satisfazer a sede de conhecimento dos seus discípulos. Já afirmava São Pio X a respeito das aulas de catecismo as quais, mesmo em meio às inúmeras ocupações pontificais, fazia questão de ministrar: para uma hora de catecismo são necessárias duas horas de estudo.[1] E isto sendo a maior parte dos ouvintes crianças…

No campo humano isto se entende sem muita dificuldade visto que conhecemos as limitações de nossa natureza. Mas,  o Homem-Deus também teria necessidade desta preparação para poder exercer bem sua missão salvadora?

De dentro dos próprios relatos bíblicos, brota-nos a resposta: segundo a narração de São Lucas, Jesus começou a exercer o seu ministério somente por volta dos trinta anos de idade (Cf. Lc 3, 23). Antes disso, porém, viveu na humilde casa de Nazaré, crescendo em graça e santidade, apenas diante de Deus, Nossa Senhora, São José, e algumas almas privilegiadíssimas que, de vez em quando, se encontravam com a Sagrada Família nas estradas da Judéia.

Devido à sua natureza divina, Jesus não necessitava desta vida contemplativa como preparação para seu ministério. Contudo, ao assumir uma natureza como a nossa, tornou-Se nosso modelo e quis demonstrar, através de seus próprios atos, o imenso valor do recolhimento. É como uma arca em que se guarda aquilo que se pensou e que se sentiu, para, no momento oportuno, saber manifestar aos demais por meio de palavras e bons exemplos.

E isto se manifestou de maneira ainda mais enfática quando o Espírito O conduziu ao deserto, onde permaneceu quarenta dias e quarenta noites em oração e penitência, contemplando o grandioso e terrível panorama de sua missão salvadora e obtendo forças para beber o cálice de terríveis sofrimentos que o Pai lhe havia destinado.

 Se estes foram os sublimes exemplos deixados pelo próprio Deus, quanta lição devem deles tirar todos os que desejam que seu apostolado produza plenamente seus frutos!

 

 

[1] SÃO PIO X apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Subiremos ao Céu em virtude da Ascenção. O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos Dominicais. Advento, Natal, Quaresma e Páscoa – Ano B. Città del Vaticano – São Paulo: LEV; Lumen Sapientiae, 2014, Op.cit., v. III, p. 359.

3 responses to “Os frutos do recolhimento”

  1. Ceres de Andrade Paes disse:

    Salve Maria,Querida Ir.Ariane Heringer Tavares,EP.
    Muito bonito o texto que a senhora escreveu.
    Agradeço-lhe carinhosamente e digo-lhe que toda!!!semana fico na expectativa de receber por e-mail esses lindos textos que me fazem não somente refletir,mas Contemplá-los e assim sendo,torna-se uma forma de Oração.
    Sinto-me unida às senhoras de certa forma,mesmo que seja por aqui,no momento.
    “É como uma arca em que se guarda aquilo que se pensou e que se sentiu, para, no momento oportuno, saber manifestar aos demais por meio de palavras e bons exemplos”
    Penso que essa arca deve ser tão linda como a Arca da Aliança!
    Um abraço carinhoso para a senhora e demais Irmãs Arautos do Evangelho,EP e estudantes
    Peço-lhes Orações!!!para mim e minha Família.
    Em Jesus e Maria,
    Ceres de Andrade Paes..

  2. Maravilhoso post, para uma reflexão >Diante da velocidade das hora, muitos alma não se permitem entrar no inteiro abandono, de sí mesma para contemplar os ensinamentos do Mestre! Salve Maria!

  3. C. Schreiner disse:

    Salve Maria!
    As almas que se deixam arrebatar pela contemplação ´´são a mola oculta, o motor que dá impulso, nesta Terra, a tudo quanto diz respeito à gloria de Deus, ao Reino de seu Filho e ao cumprimento perfeito da vontade divina“.
    Revista Arautos do Evangelho, março de 2016.
    A Paz que o mundo ignora.

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