Porque muito amou… ( cont )
Continuação do post anterior sobre a vida de Santa Margarida de Cortona.
A caminho de Cortona
O passo definitivo estava dado. A graça havia tocado o mais profundo da alma de Margarida, infundindo verdadeiro arrependimento de seus pecados e fortalecendo-lhe a vontade para levantar-se de tão triste estado.
Contudo, por onde começar? Entregou à família do marquês tudo quanto dele recebera, tomou seu filho de sete anos e voltou para Laviano, a fim de buscar refúgio junto ao pai. A cruel madrasta, porém, usou de toda espécie de artimanhas para ela nem sequer entrar em casa.
Abandonada à própria sorte, sem socorro material algum, Margarida se encontrava exposta aos maiores perigos. E o maligno, temeroso de perder sua presa, não tardou em aparecer. “Volta a mim, volta às delícias da vida, dizia-lhe. Tens inteligência, beleza, mocidade; possuirás o amor, e o mundo derramar-te-á ainda na taça todas as divinas ebriedades. Não tens que censurar-te, pois que teus pais te expulsam de sua casa”.4
Com a resolução própria às almas tocadas pelo sopro do Espírito Santo, se opôs à tentação: “Não, não, Margarida, replicou ela, com um tom de sublime energia, não te entregues de novo à ignomínia e ao remorso. Já por muito tempo desonraste a teu Criador, por longos anos fizeste guerra Àquele que te resgatou ao preço do seu Sangue. É chegada a hora de expiares as revoltas e ingratidões. Que importa a miséria? É preferível mendigares o pão a voltares ao mal. Teu pai da Terra te repeliu, teu Pai do Céu te receberá”.5 Mal formulara esta resolução, Margarida ouviu nitidamente uma voz interior a lhe dizer: “Vai a Cortona e coloca-te sob a direção dos frades menores”.6
Sem titubear nem considerar os obstáculos e os quase 30 km a serem percorridos a pé, ela se levantou e pôs-se a caminho.
Prova definitiva do perdão
Chegando a Cortona, foi acolhida pela condessa de Moscari e sua nora, as quais se encarregaram da educação de seu filhinho, que mais tarde se tornou religioso franciscano, e a encaminharam aos frades menores. Ali, um prudente e sábio diretor espiritual, o padre Giunta Bevegnati, passou a assumir o cuidado de sua alma; ele foi também seu mais fidedigno biógrafo.
A misericórdia divina é infinita. “Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve” (Sl 50, 9), cantou Davi penitente. Se o pecador se humilha e reconhece suas culpas, o perdão de Deus chega a extremos inimagináveis, restaurando mais do que foi perdido com a queda. E às vezes isto se dá de forma miraculosamente rápida.
Assim aconteceu com Santa Margarida. O próprio Cristo passou a guiá-la por meio de dons místicos, êxtases e locuções interiores, e de tal modo ela ficou transfigurada pela graça que passou, “de um salto, dos abismos da abjeção aos cimos da beleza moral”.7
No entanto, a dúvida do pleno perdão de seus numerosos pecados afligia seu dolorido coração, pois o Divino Salvador jamais a tratava de Filha, como tanto ansiava, mas sempre de Pobrezinha.
Só depois de uma penosa Confissão geral de toda a sua vida, a qual durou oito dias, Ele passou a tratá-la da forma tão anelada. Ao se aproximar da Sagrada Mesa para receber Jesus Eucarístico, a devoção e afetuosa piedade de Margarida agradaram tanto ao Senhor que Ele a chamou de minha filha, levando-a a suavíssimo êxtase. Ao voltar a si, exclamou: “Oh, infinita e suma doçura de Deus! Oh, dia feliz prometido por Cristo! Oh, palavra cheia de toda ternura, quando Vos dignastes chamar-me vossa filha!”.8 Era a prova definitiva do perdão!
Quis Jesus fazer conhecer sua clemência para com Margarida como um paradigma para todas as almas caídas, declarando: “Dispus que sejas como uma rede para os pecadores. Quero que o exemplo de tua conversão pregue a esperança aos pecadores desesperados. Quero que os séculos futuros se convençam de que sempre estou disposto a abrir os braços de minha misericórdia ao filho pródigo que, sincero, se volta a Mim”.9
“Venceste-me e vencer-te-ei”
Quem sabe medir a gravidade das culpas saberá estimar devidamente o valor incomensurável do perdão. Margarida se sentia inebriada de amor, ao considerar o abismo de comiseração do qual era objeto e, ao mesmo tempo, concebeu um ódio irreconciliável por tudo quanto lhe havia sido ocasião de pecado. Assim, se entregou a uma vida de penitência, a mais rigorosa possível, mostrando um verdadeiro ardor em restituir a seu Criador tudo o que recebera.
Para melhor levar a cabo esta tarefa, rogou aos frades menores para ser admitida como terciária. Foi-lhe exigida, por três anos, uma prova de perseverança, após a qual recebeu com indizível alegria o hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
Costumava ela dizer a seu corpo: “Venceste-me e vencer-te-ei”.10 E o castigava com constantes jejuns e vigílias. Tal ímpeto de expiação a levou a encerrar-se numa estreita celinha, onde passava os dias sujeita a dura disciplina: um pedaço de pão e um pouco de água por alimento, o chão duro por leito e uma pedra por travesseiro.
Efeitos maravilhosos da graça
Recebia com frequência a visita de seu Anjo da Guarda, mas era o próprio Jesus Cristo quem falava muitas vezes com ela durante a oração, inundando-lhe a alma com a doçura de sua presença e modelando-a conforme os desejos divinos. A abundância de dons sobrenaturais por ela recebidos transbordava em favor de quantos a rodeavam. Muitos acudiam para pedir ajuda e conselho; a todos atendia, chegando a operar vários milagres.
Uma vez, em Sansepolcro, um espírito maligno apossou-se de um menino com tanta veemência, que três homens adultos não bastavam para detê-lo. Seus pais, desolados, não sabiam a quem recorrer. Decidiram levá-lo a Cortona, pois o próprio possesso dizia que seria libertado “por intercessão e pelos méritos da Irmã Margarida de Cortona”.11
Estavam a caminho, quando, apenas ao avistarem a pequena cidade do alto de um monte, o demônio se pôs em fuga, declarando estar aquele ambiente impregnado das orações e da santidade de Margarida, e isto o queimava como um fogo devorador. Os pais seguiram a viagem para pedir a bênção à Santa, mas ela, como jamais se reconhecia autora de tais prodígios, gemeu ante os agradecimentos recebidos: “Atribuí somente a Deus um milagre a que meus pecados e minhas ingratidões poderiam trazer obstáculos”.12
Com a aprovação do Bispo de Arezzo, a Bem-aventurada fundou nesta cidade o Hospital da Misericórdia, no qual, sob sua direção, formou-se uma comunidade franciscana regular de vida ativa, que tinha “a Ordem Terceira como regra, o véu por grades e o hospital por claustro”.13
A mais eficaz das penitências
Para compreender a vida de Santa Margarida é necessário, entretanto, considerar o papel transformante da caridade, a qual impregnava todos os seus atos. O amor reparador é a mais eficaz das penitências, pois nas chamas da caridade as almas se purificam de suas culpas e se elevam a perfeições insuspeitáveis.
À penitente de Cortona bem se poderiam aplicar as palavras dirigidas por Jesus, no Evangelho, à pecadora que Lhe lavou os pés com as lágrimas e os secou com os cabelos, na casa de Simão, o fariseu: “Seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor” (Lc 7, 47).
Nos albores de 1297, o Anjo da Guarda lhe revelou estar chegando ao fim sua peregrinação terrena. Com a alma transbordante de alegria, dedicou seus últimos dias a preparar-se para o supremo juízo, confiando-se acima de tudo à divina misericórdia. A cidade de Cortona se comoveu com a notícia de sua breve partida e todos queriam receber seu testamento, “eco de sua confiança no amor: ‘O caminho da salvação é fácil; basta amar’”.14
No dia 22 de fevereiro, depois de ter consumido quase a metade de sua existência numa vida de penitência amorosa, Santa Margarida expirou. Neste momento, um grande contemplativo de Città di Castello viu sua alma elevar-se ao Céu em forma de um globo de fogo, escoltada por numerosas almas que, graças às suas orações e sacrifícios, tinham sido livradas do fogo do Purgatório.
Multidões acudiram para visitar os restos mortais da Santa, e qual não foi a surpresa geral ao ver seu rosto, tão castigado pela penitência, recobrar algo da beleza juvenil, e o leve sorriso nos lábios dava aos presentes a ideia de sua alma haver alcançado a bem-aventurança eterna.
Em 16 de maio de 1728, nas palavras pronunciadas na Missa em que promulgou o decreto de canonização da Santa, Bento XIII traçou um paralelo entre a Madalena do Evangelho e a da Ordem Seráfica: “A mesma queda e as mesmas desordens; iguais os prodígios da graça que atrai uma e outra aos pés do Salvador, as mesmas lágrimas de amor e a mesma sentença de perdão”.15
1 CHÉRANCÉ, Léopold de. Santa Margarida de Cortona. Salvador: S. Francisco, 1928, p.14.
2 MARÍA DE SAN PEDRO DE ALCÁNTARA, MR. Santa Margarita de Cortona. In: ECHEVERRÍA, Lamberto de; LLORCA, SJ, Bernardino; REPETTO BETES, José Luis (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2003, v.II, p.470.
3 CHÉRANCÉ, op. cit., p.21.
4 Idem, p.25.
5 Idem, p.25-26.
6 Idem, p.26.
7 Idem, p.39.
8 MARCHESE, Francesco. Vita di Santa Margarita da Cortona. Napoli: Andrea Festa, 1854, v.I, p.41.
9 MARÍA DE SAN PEDRO DE ALCÁNTARA, op. cit., p.472.
10 CHÉRANCÉ, op. cit., p.35.
11 Idem, p.81.
12 Idem, ibidem.
13 Idem, p.76.
14 MARÍA DE SAN PEDRO DE ALCÁNTARA, op. cit., p.474.
15 BENTO XIII, apud CHÉRANCÉ, op. cit., p.172.
Salve Maria!
Santa Maria Madalena perdeu-se, encontrou-se com Nosso Senhor se converteu mudou de vida. Em certo momento caiu pior do antes, voltou, se converteu e dai com uma vida de amor, com uma vida de horror ao que tinha ficado para trás e com um desejo enorme de ter recuperado tudo o que tinha perdido, recuperou, de tal forma que quando morreu Nosso Senhor foi a primeira a ver Nosso Senhor, depois de Nossa Senhora, por causa do amor Dela. Quem não tem mais a inocência deve substituir essa inocência por um amor que rache montanha com um amor que apaga as estrelas, por um amor que competido com outras estrelas deixa apagar, mas acende outras estrelas, nós devemos amar, amar, amar, sobretudo aqueles que perderam a sua inocência, deve amar a ponto de fazer com que Deus o coloque na primeira lista de todos os inocentes.
Sermão de um grande pregador.