Infinitude de Deus

Ir. Rita de Kássia C. D. da Silva, EP.
3º Ano de Ciências Religiosas

Certo dia, após a missa, uma religiosa foi abordada por uma criança que lhe indagou:
– Quantos anos Deus têm?
Ao deparar-se com uma pergunta tão inusitada, não teve tempo para responder, pois a própria menina a interrompeu:
– Ah, já sei. Ele é infinito, não é?
Concordando, a outra procurou explicar-lhe que Deus é sempre o mesmo, sem começo nem fim.
– Mas, como, Ele não nasceu? – interrogou novamente a pequena.
– Não. Deus não nasceu – continuou a religiosa – Ele sempre existiu. Deus não pode ser posto no tempo. Não teve começo nem terá fim.

De fato, perguntas como essas povoam nossa inteligência quando pensamos em Deus. Ao contemplarmos, em uma noite de verão, o sol que deita seus últimos raios, pintando e colorindo as montanhas, e aos poucos, dando lugar a abóbada celeste, carregada de miríades de estrelas, planetas e astros que vão se acendendo aqui, lá e acolá, podemos, também, questionar: quem os criou? Ou ainda, estando na praia, vendo o número incalculável de grãos de areia e a imensidade do mar, com suas ondas, ora calmas ora revoltas, que não ultrapassa seus limites, a não ser em casos excepcionais, – como em tsunamis ou maremotos, – numa verdadeira disciplina, pensar que sendo o universo tão ordenado, tão imenso e quase sem limites tem de haver um Ser superior a tudo isso, o qual criou, mantém, governa e tem tudo debaixo de seu olhar. Como é Ele?

O salmo nos responde: “Antes que se formassem as montanhas, a terra e o universo, desde toda eternidade vós sois Deus” (Sl 89, 2). “Vós permaneceis o mesmo e vossos anos não têm fim” (Sl 101, 28). É Aquele que subsiste por si, – Ipsum esse subsistem – o que é, era e sempre será, que não teve começo nem terá fim, Aquele o qual o universo não pode conter: Deus infinito.

Com efeito, bem nos explica São Tomás que todas as coisas criadas são de natureza finita, pois são determinadas pela essência de algum gênero. Se compararmos uma coisa branca, ela pode ser mais ou menos branca, uma grandeza segue a outra e pode ser mais perfeita. Ao contrário, em Deus, a essência e existência se confundem, sendo uma e única, e Ele não pertence a nenhum gênero, antes, a Sua perfeição contém as perfeições de todos os gêneros; daí ser Deus infinito.1

E, assim como o sol que durante o dia brilha e ilumina todos os lugares em que incide sobre a terra, assim Deus está em toda parte, nos espaços vazios, no interior de cada ser. Ele está presente em tudo e tudo está dentro d’Ele. Deus, que não tem corpo, não tem tamanho, é incomensurável e sem fim.

O infinito não pode ser compreendido por nossa razão limitada. Como diz um provérbio alemão: “Nunca entenderás o que é Deus, a não ser que sejas Deus.”2 Pois como afirma o Doutor Angélico, o efeito não pode ir além da sua causa. Como nossa inteligência vem de Deus que é a primeira causa de todas as coisas, nosso intelecto, sendo finito não poderia pensar em algo maior que Deus.3

Cresçamos no desejo de encontrar-nos com nosso Criador, Benfeitor e Redentor e preparemo-nos para conhecer todas as maravilhas que Ele, em seu imenso amor, nos tem preparado. “ Grande é o Senhor, e muito digno de louvor, e a sua Grandeza não tem limites”. ( Sl 144,3)

1SÃO TOMÁS DE AQUINO. Cont. Gent. I. c.XLIII, 1
2 FRANCISCO SPIRAGO. Catecismo en exemplos. Trad. Dr. D. Carlos Cardó. 2 ed. Barcelona: Políglota 1993, p. 104-105
3 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Cont. Gent. I. c.XLIII, 9.

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