Aflições, crises, catástrofes? Eis a solução.
Ir. Elen Coelho, EP
Um dos principais focos desta heresia estava na França, especialmente na região do Meio-Dia, do Languedoc, de Toulouse e seus limites até os Pirineus.
Grandes aflições passavam os missionários do Languedoc, especialmente São Domingos. Tomado por uma moção interior, dirigiu-se a uma floresta próxima a Toulouse a fim de fazer penitência e implorar que Deus “tivesse pena de sua própria glória calcada aos pés pela heresia”. 1 Foram três dias e três noites de austeros sacrifícios, gemidos, lágrimas e, sobretudo, de oração. Quando seu corpo estava a ponto de desfalecer, Maria Santíssima, resplandecente, lhe apareceu:
A Santíssima Virgem que estava acompanhada de três princesas do Céu lhe disse: “Sabes tu, meu caro Domingos, de que arma a Santíssima Trindade se serviu para reformar o mundo?” – “Ó Senhora!” respondeu ele, “Vós o sabeis melhor do que eu porque depois de Vosso Filho Jesus Cristo fostes o principal instrumento de nossa salvação”. Ela continuou: “O instrumento principal dessa obra foi o saltério angélico que é o fundamento do Novo Testamento. Portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, reza meu saltério.” 2
Não se sabe se nesta ocasião Maria Santíssima lhe ensinou a rezar o Rosário, ou se esta devoção já existia, ou ainda se, por uma ação da graça, ele intuiu como recitá-lo. O certo é que o santo pregador compreendeu perfeitamente o que deveria fazer e, após a celeste aparição, com o ânimo reconstituído e inflamado de zelo pela salvação das almas, levantou-se imediatamente e dirigiu-se à Catedral de Toulouse. Sua chegada foi precedida pelo toque grave dos sinos que, miraculosamente, chamavam as pessoas para a Catedral. O santo entrou e, ao se posicionar no púlpito e iniciar a pregação, a própria natureza pôs-se a enfatizar suas palavras:
Assim que iniciou seu sermão, desencadeou-se uma tempestade terrível, a terra estremeceu, o sol se escureceu, houve tantos trovões e raios que todos ficaram muito temerosos. Ainda maior foi o seu medo quando olharam a imagem de Nossa Senhora, exibida em local privilegiado, e a viram levantar os braços em direção ao Céu, três vezes, para acalmar a vingança de Deus sobre eles, caso eles falhassem em se converter, arrumar suas vidas e procurar a proteção da Santa Mãe de Deus. 3
Deus permitiu tais fenômenos e milagres para que aqueles corações endurecidos se impressionassem, e se movessem à conversão.
São Domingos rezou a Deus, e a tempestade se acalmou. Ele continuou sua pregação mostrando a importância do Rosário. Os presentes ficaram tão impressionados com o ocorrido e com as palavras impregnadas de fogo de São Domingos que naquele mesmo dia praticamente toda a cidade se converteu. 4
A partir do momento em que São Domingos deu início à difusão da devoção ao Santo Rosário, Maria Santíssima começou a derramar abundantes graças aos que o recitavam.
Após a morte de São Domingos, seus filhos espirituais continuaram a pregação do Santo Rosário. Entretanto, transcorrido um século, o fervor em relação a esta devoção foi se apagando até quase ao esquecimento.
Dessa forma, o Rosário, precioso canal de graças utilizado por Deus para derramar graças à humanidade, foi bloqueado e um grande castigo infligiu a Europa: a terrível peste negra assolou o continente por três anos, deixando-o quase deserto. Tal catástrofe foi sucedida por dois outros flagelos: a heresia dos flagelantes e o cisma de 1376. 5
Contudo, Nossa Senhora não permitiu que esta situação se prolongasse e, após ter cessado tais calamidades, escolheu um filho de São Domingos para que reavivasse a devoção a seu Rosário.
Beato Alano de la Roche
Alano de la Roche nasceu em 1428, na Bretanha. Ingressou na Ordem dos Pregadores quando ainda muito jovem. De inteligência privilegiada e dotado de grande eloquência, rapidamente se tornou um perfeito orador.
Contudo, dizem as Sagradas Escrituras: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação” (Ecl 2,1). Durante sete anos o Beato Alano foi acometido por aridezes e infestações do demônio. Numa ocasião, quando mais especialmente atravessava um período de tremenda aridez, Maria Santíssima lhe apareceu no interior de sua cela para consolá-lo, e entregou-lhe uma corrente feita com seus próprios cabelos, na qual estavam entrelaçadas cento e cinquenta pedras preciosas, de acordo com o número de contas do Rosário. A Rainha do Céu lhe explicou nesta ocasião que este instrumento lhe serviria como uma poderosa arma contra o inimigo infernal. 6
Terminada a aparição, Alano compreendeu a necessidade do Rosário para sua vida espiritual. No entanto, a Providência queria dele algo além de um puro aumento de sua piedade.
Um dia em que celebrava a Santa Missa, após a Consagração, a Hóstia que segurava nas mãos assumiu a figura de Nosso Senhor, que severamente o repreendeu, dizendo:
“Alano, tornas a crucificar-Me uma segunda vez?” O Dominicano assustado lhe respondeu: “Ó Senhor Jesus, como posso ser capaz de tamanha crueldade?” Nosso Senhor lhe responde: “Preferia ser novamente crucificado, a ver o Meu Pai ofendido com os pecados por ti cometidos. Tu pecas de omissão! Possuis a ciência, a faculdade e o dever de pregar o Santo Rosário e não o fazes. O mundo está cheio de lobos e tu te transformaste num cão mudo, incapaz de ladrar. Se não te corriges, Eu juro pelo Meu Pai, que será pasto dos míseros mortais”. 7
Após essas palavras o Divino Salvador lhe mostrou o inferno e o lugar para onde iria se não tomasse a séria resolução de pregar o Rosário. Alano, impressionado com a divina reprovação, tornou-se um incansável pregador do Rosário. Por meio de pregações conseguiu reavivar as Confrarias do Rosário e quando chegou o dia de entregar sua alma a Deus já havia congregado mais de cem mil filhos e membros das Confrarias.
Vemos assim que por meio do Rosário, a Divina Providência quis renovar a face da Terra. O Rosário é uma das devoções mais diletas da Santíssima Virgem: “Depois do Santo Sacrifício da Missa, não há nada na Igreja que ame mais do que o Rosário”. 8
E ainda na Mensagem de Fátima encontram-se as maternais palavras de esperança da Mãe de Deus e o meio que Ela põe a nosso alcance para solucionar a crise contemporânea: “Rezai o Rosário todos os dias, para alcançar a paz”
2 Ibid. p. 83-84.
3 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. O Segredo do Rosário. Trad. Geraldo Pinto Faria. Belo Horizonte: Divina Misericórdia, 1997.p. 13.
4 Loc. cit.
5 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. O Segredo do Rosário. Op. cit. p.19.
6 PAOLA, Roberto (Org.). Il Salterio di Gesù e di Maria:Storia e rivelazioni del Santissimo Rosario. Conegliano: Ancilla, 2006, p. 56.
7 SPIAZZI, Raimundo. Cronaque e fioretti del monastério di San Sisto all’’Appia. Roma: Raccolta di storici,tradizioni e testi d’archivio, 1994, p.359-360.
8 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. O Segredo do Rosário. Op. cit. p.150.