Espírito do Santo Temor
Raphaela Nogueira Thomaz
Entretanto, o temor se opõe à esperança – como ensinam os filósofos – e em Deus temos a suma esperança. Então, por que “temor de Deus”?
Em sua carta, São João nos diz: “Deus caritas est” (1Jo 4,16). Portanto, se Deus é amor não há por que temê-lo.
Contudo, aliada a essa suma Bondade que é Deus, encontramos também Sua infinita justiça, que odeia e castiga o pecado do homem. E, neste sentido, Ele pode e deve ser temido, enquanto tem a faculdade de infligir-nos um mal que mereçamos, em castigo de nossas culpas.
Há quatro classes de temor, muito distintas entre si:
- Temor mundano – é aquele que não vacila em ofender a Deus para evitar um mal temporal. Em tempos idos, quantos heróis da Fé, quantos mártires que, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, não negaram sua Fé e entregaram sua própria vida! Hoje em dia, quantos há que, por horror ao ridículo e por medo das risadas, se entregam às mais deploráveis infâmias!
- Temor servil – é próprio do servo que obedece a um senhor apenas por medo do castigo que pode advir-lhe, se assim não proceder. Todavia, nesta classe de temor existem duas modalidades:
- A primeira é o medo do castigo como causa única, sem ter em conta a afronta contra Deus.
- A segunda é quando o medo do castigo acompanha a causa principal, que é o horror de ofender a Deus. Também chamada dor de atrição, é boa e honesta, mas é um temor simplesmente servil.
- Temor filial imperfeito – é o que evita o pecado porque nos separaria de Deus, a quem amamos. É próprio do filho que ama seu pai e não quer separar-se dele. É um temor bom e honesto, mas ainda não é o perfeito, posto que tenha em conta o castigo que lhe viria: a separação do Pai, por isso, do Céu. Assim, é um temor inicial.
- Temor filial perfeito – é o amor sumamente perfeito a Deus, o qual levou Santa Teresa D’Ávila a dizer com toda a verdade: “ Ainda que não houvesse céu, eu Te amaria, e ainda que não houvesse inferno, Te temeria”.
Agora, qual dessas classes estaria relacionada ao Dom de Temor de Deus? Evidentemente, o temor filial perfeito, pois se funda na caridade e reverência a Deus como Pai. Mas como o temor filial imperfeito não difere substancialmente do filial perfeito, também o imperfeito passa a fazer parte do dom de temor, ainda que só em suas manifestações incipientes ou imperfeitas. À medida que cresce a caridade, este temor inicial vai se purificando; vai perdendo sua modalidade servil, que ainda teme a pena, para fixar-se unicamente na culpa enquanto ofensa a Deus. O dom de Temor é, portanto, um dom importantíssimo, que inclina a nossa vontade ao respeito filial a Deus, afasta-nos do pecado, enquanto lhe desagrada, e nos faz esperar no poder de Seu auxílio, aperfeiçoando as virtudes da esperança e da temperança, ao fazer-nos considerar a grandeza de Deus.
Grandes santos existiram ao longo da História, os quais, espargindo seu perfume de virtude, inspiravam fortes oposições entre os bons e os maus. Sua integridade impunha respeito e, sobretudo temor que é um reflexo do temor que os homens devem ter a Deus.
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