Lições das aves do céu
Ir Maria Beatriz Ribeiro Matos, EP
Desafios, riscos e esforços estão constantemente presentes na vida desta Terra. E não só para os homens, como também para os animais. Para fazer face a tais obstáculos, a Divina Providência os beneficiou com admiráveis instintos, que podem trazer valiosas lições para nós. Por isso, já dizia o santo Jó: “Pergunta, pois, aos animais, e eles te ensinarão; às aves do céu, e elas te instruirão” (12, 7).
É o que acontece ao contemplarmos os majestosos “Vs” que, com a proximidade do inverno, cortam o azul do céu com seu vigoroso avanço. Eles são desenhados por bandos de aves migratórias, buscando um clima mais propício nas regiões setentrionais do globo. Durante a longa viagem elas mantêm esta característica disposição, na qual um dos pássaros vai à frente dos demais, bem no vértice da farpa.
Além de ser bela, esta disciplinada formação obedece a um princípio de sabedoria do Criador: cada bater de asas do líder do bando cria um vácuo que é aproveitado pelos que vêm logo atrás, fazendo-lhes economizar uma boa dose de esforço. O mesmo acontece, sucessivamente, com todos os outros integrantes. Deste modo, o empenho de quem está à frente serve de benefício para os que lhe seguem. A fim de melhor enfrentar os ventos, as correntes de ar e as agruras do deslocamento, numerosas aves se revezam nesta tarefa. Assim, depois de certo tempo mantendo tão fundamental posição, quem liderou o bando refaz suas forças ocupando um lugar diferente em que o esforço é bem menor.
Não é difícil compreender a lição que estas aves do céu nos têm a dar, sobretudo se recordamos que estamos em constante “migração” por este vale de lágrimas, que é a Terra.
Se de fato amamos a Deus, para Ele rumaremos com confiança e alegria, sem nos deixar abater pelas vicissitudes do caminho, e desejaremos igual felicidade para nossos semelhantes. Isto significa, com frequência, tomar a iniciativa de encorajá-los, conforme o ensinamento do Apóstolo: “Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na Fé” (Gal 6, 9-10).
Sem dúvida, quando as tempestades da tribulação desabam sobre alguém, uma palavra ou gesto de conforto pode aliviar o peso de seu infortúnio. Mais importante, porém, é estarmos preparados para enfrentar os escolhos e perigos da longa viagem e, quando necessário, nos adiantarmos com galhardia para abrir caminho, permitindo que os outros avancem mais decididamente rumo à Pátria Eterna.
Se formos generosos nesta tarefa, não temendo as dificuldades e os sofrimentos de quem é chamado a liderar, o nosso “bando” avançará sem experimentar as amarguras do egoísmo, a exemplo de Maria Santíssima que até nas terríveis horas da Paixão foi guia e sustentáculo da Igreja nascente.
Com o auxílio desta Mãe, que é a Fortaleza dos fracos, estaremos sempre animados e animando, e, quando atingirmos nosso destino final, receberemos a recompensa daqueles que, tendo “introduzido muitos nos caminhos da justiça, luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor” (Dn 12, 3).
Revista Arautos do Evangelho Jan. 2017