Quem se exaltar será humilhado
Ir. Ariane da Silva Santos, EP
Quem vive procurando a si mesmo em tudo o que faz, torna estéreis todas as suas obras — isto é, não produz frutos sobrenaturais e, muitas vezes, nem sequer naturais — e, no dia juízo, não receberá nenhuma recompensa de Deus. Assim nos ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo quando, referindo-Se aos fariseus, que jejuavam e oravam só “para serem vistos pelos homens” (Mt 6, 5), recriminou-os dizendo: “Em verdade Eu vos digo, já receberam sua recompensa” (Mt 6, 16).
Ademais, Deus não só abandona o orgulhoso como também, em certos casos, o repele, como ressalta a profecia de Isaías: “O Senhor dos exércitos terá um dia (para exercer punição) contra todo ser orgulhoso e arrogante, e contra todo aquele que se exalta, para abatê-lo” (Is 2, 12). E o Eclesiástico evidencia quão repugnante é este vício diante de Deus: “Assim como sai um hálito fétido de um estômago estragado […] assim é o coração dos soberbos” (Eclo 11, 32). Também Jesus manifestou de modo taxativo sua aversão ao orgulho, ao censurar os fariseus e escribas: “Ai de vós escribas e fariseus! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mt 23, 13).
O Pe. Royo Marín explica a esse respeito:
Cristo perdoou toda classe de pecadores (ladrões, adúlteros, etc.), mas rechaçou com indignação o orgulho e obstinação dos fariseus. A História confirma continuamente os dados bíblicos: quantos pretensos “super-homens” que não queriam inclinar-se ante Deus pagaram caro seu orgulho, morrendo sem sacramentos e com manifestos sinais de condenação! 2
Exemplo paradigmático é a morte do ímpio Voltaire, ocorrida a 30 de maio de 1788, quando ele contava 84 anos de idade. Eis a chocante narração de Lenôtre:
Sua dor arrancava-lhe urros. Ele queimava; seu ventre parecia abrasado por um fogo interior. […] Às vezes era visto de mãos juntas, com os olhos perdidos no céu, submerso em uma profunda meditação. Quando era assim surpreendido, logo se levantava, se arrebatava e contorcia-se em horríveis convulsões…
No sábado, 30 de maio [de 1788], dia de sua morte, os doutores Lorry e Thierry chegaram às dez horas da noite. […] Ele estava imóvel e sem pulso. Fizeram-lhe uma massagem vigorosa. Voltaire abriu os olhos e sussurou: “Deixem-me morrer”. Alguns instantes depois, lançou um grito enorme. Um grito tão terrível que a enfermeira Roger pensou morrer de pavor e a outra enfermeira, Bardy, adoeceu por vários meses.
O Dr. Tronchin, que presenciou seus últimos instantes, afirmou: “Que morte! Não posso pensar nela sem tremer!”. 3
Podemos entender nesse sentido as palavras do Divino Redentor: quem “se exaltar será humilhado” (Lc 14, 11). Os que viveram atolados no orgulho sofrerão a pior das humilhações quando forem excluídos da mesa do Reino de Deus, à voz do Juiz: “Afastai-vos de Mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25, 41).
1 GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. Le trois âges de la vie intériure prélude de celle du ciel. 7. ed. Paris: Du cerf, 1938. v. I, p. 633-634: “[…] il faut rappeler souvent que tous les péchés et le damnation éternelle viennent d’un fond maudit qui se recherche soi-même et qui opposé à Dieu”. (Tradução da autora)
2 ROYO MARÍN, Antonio. Teología de la salvación. 3. ed. Madrid, BAC, 1965, p. 115: “Cristo perdonó en el acto a toda clase de pecadores (ladrones, adúlteros, etc.), pero rechazó con indignación el orgullo y obstinación de los fariseos. La historia confirma continuamente los datos bíblicos: cuántos pretendidos ‘superhombres’ que no querían inclinarse ante Dios pagaron caro su orgullo, muriendo sin sacramentos y con manifiestas señales de reprobación!”. (Tradução da autora)
3 LENÔTRE, G. Existences d’Artites, apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio (Org.). Despreocupados… rumo à guilhotina. São Paulo: Brasil de Amanhã, 1993, p. 230.
Tive hoje uma grande aula de catequese para minha vida. Parabéns Ir. Ariane pelo excelente artigo.