A Imaculada Conceição de Maria
Ir. Ana Bruna de Genaro Lopes
Dentre as inúmeras ordens religiosas inspiradas pelo Espírito Santo, uma delas se destaca pela extrema caridade: os mercedários. Os monges de Nossa Senhora das Mercês se entregavam livremente ao martírio em troca da libertação dos cativos que, na maioria das vezes, eram pessoas desconhecidas aos religiosos. Entretanto, um modo mais perfeito e super-excelente, acima desta forma de resgate, seria o de poupar o cárcere ao futuro prisioneiro antes mesmo de ser capturado.
Tendo em vista a Encarnação do Verbo no seio puríssimo da Virgem Maria, Deus aplicou os méritos do Sangue redentor de Cristo na alma d’Ela da maneira mais excelente: antes mesmo de sua Conceição, Ela foi redimida e livre do pecado ante previsa merita.
Diferentemente de São João Batista, que foi santificado no ventre materno – recebeu a herança do pecado, porém foi livre deste antes mesmo de nascer – Nossa Senhora, em atenção ao Homem-Deus que nasceria de seu seio, nunca conheceu, por um instante sequer, o pecado de Adão. Ela é a única criatura a quem não se aplica o salmo de Davi: “Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl 50, 7).
Cada Pessoa da Santíssima Trindade possuía motivos diversos para a preservação de Maria do pecado, e a sua própria missão o exigia. Vejamos o quanto convinha a cada uma delas a preservação de Maria da culpa original.
Convinha a Deus Pai conservar Maria livre de toda mancha por ser Ela a Sua primogênita, por causa da sua missão de Medianeira entre Deus e os homens. Além disso, Ela haveria de esmagar a cabeça da serpente, e, principalmente, pela sua eleição como Mãe do Filho Unigênito de Deus.
A Deus Filho era conveniente ter uma Mãe Imaculada, pois “a glória do homem provém da honra de seu pai” (Eclo 3, 13). E ainda, como poderia o Legislador do Quarto Mandamento deixar de honrar sua Mãe com este privilégio?
Como poderia o Espírito Santo, ao criar sua Esposa, deixar de dar-Lhe a formosura ilibada? Ou deixar de cumulá-la com a maior santidade que uma criatura possa alcançar?[1]
Comenta São João Damasceno a esse respeito:
O Senhor a conservou tão pura no corpo e na alma, como realmente convinha àquela que iria conceber a Deus em seu seio. Pois santo como Ele é, procura morar só ente os santos. Portanto, o Eterno Pai podia dizer a esta filha: Como o lírio entre os espinhos, és tu, minha amiga, entre as filhas (Ct 2,2): Pois, enquanto as outras foram manchadas pelo pecado, tu foste sempre imaculada e cheia de graça.[2]
“Tu foste sempre Imaculada e cheia de graça”. Eis uma verdade sempre crida e louvada por todos os fiéis ao longo dos séculos e que, no entanto, foi proclamada como dogma somente no século XIX.
[1] Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. Aparecida: Santuário, 1987, p. 236-250.
[2] SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit. p. 240.