A lição das formigas
Emelly Tainara Schnorr
Quando conseguimos nos afastar por alguns momentos do corre-corre rotineiro e deixamos a selva de concreto de nossas cidades para nos aproximarmos mais da natureza, sua beleza e ordenação nos convidam a nos deleitarmos com um mundo de paz e serenidade e a aprendermos muitas lições…
Falta-nos tempo para admirar o Sol que se levanta para nos trazer o dia, espalhando sobre o céu cores belas e variadas. Sem nunca deixar de fazer seu percurso com constância e pontualidade, brilha ele até o momento de retirar-se, para ceder lugar à rainha da noite, a Lua. E quando a abóboda celeste já está coberta com o noturno manto escuro, cintilam as preciosas estrelas, jamais se chocando umas com as outras, mantendo sempre impecável disciplina.
A mesma ordenação vemos refletida no reino animal: desde os maiores, passando pelos mais espertos, até os mais inofensivos, cada um manifesta um modo de vida regrado e uniforme, seguindo com retidão os impulsos de seus instintos naturais.
Pois é para admirar um humilde inseto que convidamos nosso leitor a deixar suas preocupações por uns instantes. Observemos as formigas, “animais pequenos na terra que, entretanto, são sábios, muito sábios” (Pr 30, 24).
Apesar de não apresentar uma formosa figura, elas provocam encantamento pela perfeição de sua vida em sociedade. Não é raro uma criança, ao brincar no jardim de sua casa, encontrar um formigueiro e pisá-lo, ficando espantada por ver a quantidade de insetos que correm desesperados pela “tragédia” sucedida… Quantos caminhos e galerias são descobertos debaixo da terra! Como um lugar tão diminuto serve de alojamento para tantas formiguinhas? E mais assombroso ainda é ver tudo tão bem organizado e dividido, havendo, até mesmo, repartições com câmaras e salões.
Ali vivem as formigas em completa harmonia, ajudando-se mutuamente. Muito raro é encontrar alguma sozinha, sempre marcham em conjunto na busca do alimento, formando verdadeiros cortejos. E é tal a união entre elas, que uma, ao passar do lado da outra, nunca segue seu caminho sem parar para “cumprimentar” sua companheira.
Chama também a atenção a pertinácia com que estes miúdos insetos desempenham seus trabalhos: independente do tamanho e do peso dos alimentos — muitas vezes superiores à sua estatura —, nunca desanimam ou desistem, seguindo sempre adiante, com ímpeto e rapidez.
Se pensamos nas desordens e extravios existentes no mundo dos homens, desconhecidos no universo das formigas, é possível que sintamos tristeza. E com razão, pois estando o homem dotado de inteligência e vontade, possuindo um forte instinto de sociabilidade que lhe dá o anseio — até mesmo a necessidade — de conviver com os outros, e contando ainda com o auxílio da graça, por que vemos tanto egoísmo e violência na sociedade?
Ah… se o homem se lembrasse mais do Criador de todas estas maravilhas, seus instintos ficariam mais ordenados! Se amasse ele a Deus sobre todas as coisas e ao próximo segundo o amor que Ele tem por cada um (cf. Jo 13, 34), como seria diferente o mundo no qual vivemos!
A isso nos convida a imagem da tenaz formiguinha carregando o seu pesado fardo. Pois não é verdade que ela faz lembrar Nosso Salvador subindo ao alto do Calvário carregado com o peso dos nossos pecados, sem demonstrar uma fímbria de cansaço ou desânimo?
Não é sem razão que a Escritura aconselha a dirigirmos nossa atenção a este humilde inseto: “Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa seu proceder e torna-te sábio: ela não tem chefe, nem inspetor, nem mestre; prepara no verão sua provisão, apanha no tempo da ceifa sua comida” (Pr 6, 6-8).
Contudo, não devemos restringir este conselho tão só às nossas labutas físicas e terrenas, mas, sobretudo, às espirituais, que tangem ao serviço da Santa Igreja, para a implantação do Reino de Cristo em todo o orbe da Terra.
Apoiando-nos somente em nossas próprias forças, porém, jamais alcançaremos a meta. Para atingi-la, devemos recorrer às armas da oração com a mesma pertinácia das formigas, pois é por meio das graças através dela obtidas que nos advirá a fortaleza necessária para abandonarmos o caminho do egoísmo e abraçarmos o da virtude. Só assim se estabelecerá de novo a paz, a benquerença e a harmonia entre os homens.
Seremos nós um dia ao menos imitadores da formiguinhas, para não dizer copiadores de tão belos exemplos.