“Ouvi a voz do Senhor!”

Ir. Aline Karoline de Souza Lima, EP

3º ano de Ciências Religiosas

A Santa Igreja celebra, nessa época do ano, um tempo litúrgico riquíssimo em ensinamentos e lições de vida: a Quaresma. Assim como nosso Redentor passou quarenta dias em recolhimento no deserto, antes do início de sua vida pública, também nós consagramos quarenta dias do ano ao recolhimento, à contrição dos nossos pecados e aos bons propósitos.

Eis que nesse tempo, sapiencialmente instituído, Nosso Senhor bate à porta da alma de cada um de nós, seus filhos, cuja salvação Lhe custou o próprio Sangue, e diz: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, Eu com ele, e ele comigo” (Ap 3, 20).

Quanta doçura, quanto amor, quanto desejo de conversão há nesse apelo que Nosso Senhor nos faz! Quem de nós, vivendo no tempo d’Ele, teria a dureza de coração, a frieza, a crueldade de ignorá-Lo e abandoná-Lo do lado de fora, caso Ele batesse à porta? Não seria essa uma atitude desumana? Pois é o que fazemos quando ignoramos os chamados e inspirações que Ele, cheio de amor, faz à nossa alma.

Qual deve ser nossa atitude ao ouvirmos a voz de Cristo a falar em nossos corações, convidando-nos à vida eterna? Como colocar em prática os conselhos e bons propósitos que Ele nos inspira?

Conta o Primeiro Livro dos Reis: “O Senhor disse [a Elias]: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: Ele vai passar. Nesse momento passou […] um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias?” (I Rs 19, 11-13). Vemos nessa passagem um importante ensinamento: Deus não está no barulho, nas agitações, nos tumultos do dia-a-dia; mas está, sobretudo, na suave brisa do silêncio e do recolhimento.

Portanto, se queremos verdadeiramente ouvir a voz da graça que clama em nós, tenhamos sempre o espírito recolhido. Nosso Senhor Se manifesta especialmente àqueles que, mesmo na contingência de resolver inúmeros problemas do cotidiano, sabem elevar a mente às coisas mais altas e conciliar os deveres temporais com os espirituais.

Contudo, incompleta estaria essa breve consideração se não levássemos em conta outra passagem do Evangelho: “Felizes aqueles que ouvem a palavra do Senhor e a põem em prática” (Lc 11, 28). Ao escutarmos os conselhos divinos em nossa alma, devemos fazer bons propósitos e colocá-los em prática.

É verdade que isso exige esforço de nossa parte; mas não podemos desanimar, pois “os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós” (Rm 8, 18). Se nesta vida formos dóceis à voz de Nosso Senhor, receberemos como recompensa algo infinitamente superior: na hora do Juízo ouviremos essa mesma voz pronunciar a sentença eterna: “Vinde, benditos de meu Pai! Vinde e tomai parte na glória que vos está reservada desde a Criação do mundo”.

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