O que é a oração?

Ir Lays Gonçalves de Sousa, EP

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Para muitos, a oração é meramente a recitação de palavras decoradas ou lidas. Entretanto, ela possui um sentido mais profundo e sobrenatural: é “o diálogo do homem com Deus”1, a “elevação da mente a Deus”2.

A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção.3

O homem pode converter um simples trabalho em oração, pois qualquer ato de virtude, quando realizado por um motivo sobrenatural, é considerado como tal.4

Não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais variadas tarefas […] é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. E assim, todas nossas obras, temperadas com o sal do amor de Deus, tornar-se-ão um alimento dulcíssimo para o Senhor do universo. Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível. 5

“Vinde a Mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo de vossos pecados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Bem sabe o Divino Mestre quais são nossos combates neste vale de lágrimas e o quanto o jugo de nossas debilidades nos fatiga e deprime. Deseja Ele que, por meio da oração, depositemos nossa confiança no seu poderoso auxílio para, assim, esmagar nossas fraquezas e edificar um templo espiritual agradável aos seus olhos.

É próprio à natureza humana alimentar-se, uma vez que, sem os nutrientes necessários, acaba por desfalecer. O mesmo ocorre com a alma, a qual, para subsistir, precisa de um alimento espiritual que a robusteça e anime. Esse nutriente divino é a oração conforme atesta Santo Agostinho: “A oração é ainda o alimento da alma, porque assim como o corpo não se pode sustentar sem alimento; sem a oração não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração”.6

O que há de mais elevado no homem não é o corpo, mas a alma, visto que o corpo definha e se corrompe, e a alma, no entanto, é imortal. Hélas! Como somos zelosos em sustentar o corpo e relaxados no dever de vivificar a alma!

Se soubéssemos tomar a oração como remédio para nossa fraqueza, muito mais faríamos para a glória de Deus.

A oração é, portanto, a força dos fracos e socorro daqueles que caem no abismo do pecado, vencedora dos incrédulos, fortaleza dos Santos, verdadeiro vigor da alma. O mais forte dos guerreiros, ornado da mais preciosa armadura, será considerado como incapacitado para a guerra se não souber dobrar os joelhos e com humildade recorrer Àquele de quem procede toda vitória. Esse é o tesouro que nos “concede todas as graças pedidas, vence todas as forças do inimigo; […] transforma os cegos em iluminados, os fracos em fortes, os pecadores em santos”.7

Logo, quem não recorrerá a tão valioso dom? “Que há no mundo mais excelente que a oração? Que coisa mais útil e proveitosa? Que coisa mais doce e mais suave? Que coisa mais alta e mais sublime em toda nossa religião cristã?”8

1 SÃO JOÃO CLÍMACO. In: LOARTE, José Antonio. El tesoro de los Padres: Selección de textos de los Santos Padres para el tercer milenio. Madrid: Rialp, 1998, p. 345. (Tradução da autora).
2 SÃO JOÃO DAMASCENO, apud ROYO MARÍN, Antonio. La oración del cristiano. Madrid: BAC, 1975, p. 4. (Tradução da autora).
3 PSEUDO-CRISÓSTOMO. A oração é a luz da alma. In: COMISSÃO EPISCOPAL DE TEXTOS LITÚRGICOS. Liturgia das horas. São Paulo: Vozes; Paulinas; Paulus; Ave Maria; 2000, v. II, p. 58.
4 Cf. ROYO MARÍN. Op. cit. p. 4.
5 PSEUDO-CRISÓSTOMO. Op. cit. 58.
6 SANTO AGOSTINHO, apud SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit. p. 22.
7 SÃO LOURENÇO JUSTINIANO, apud SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. A Oração. Trad. Henrique Barros. 24. ed. São Paulo: Santuário, 2012, p. 47.
8 SANTO AGOSTINHO, apud RODRIGUES, Afonso. Exercícios de perfeição e virtudes cristãs. Trad. Pedro de Santa Clara. 4. ed. Lisboa: União Gráfica, 1947, p. 8. v. II.

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