O olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo

Beatriz Alves dos Santos

Um olhar… À primeira vista, um simples vocábulo, mas que, muitas vezes, exprime mais do que mil palavras! Um olhar: um universo de riquezas! Nele se exprime o que há de mais íntimo no ser humano: a alma.

Analisando a estreita união entre a alma e o olhar, entende-se a capacidade de atração de algumas fisionomias, cujo olhar denota inocência, sacralidade e elevação e, em sentido oposto, a penumbra espiritual que transparece de modo inevitável nos indivíduos fora da graça de Deus…

Porém, se o olhar de qualquer ser humano tem essa força de manifestação e essa riqueza de matizes, como terá sido o olhar do mais sublime dos homens: o de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Primeiramente, deve-se considerar a grandeza do Homem-Deus. A esse propósito, comenta o professor Plinio Corrêa de Oliveira:

Nosso Senhor deveria ter tido um poder tal que, quando Ele passava, as flores se voltavam para Ele; os animais vinham prestar-Lhe homenagem; os animais daninhos saíam fugindo; as plantas e as ervas se estendiam à procura dos pés d’Ele para, pelo menos, serem calcadas por Ele; as brisas iam de encontro a Ele. No considerar o olhar d’Ele, as águas se refletiam e estremeciam de alegria!1

O Divino Salvador deve ter sido de tal beleza, que os que O viam ficavam atordoados de admiração! Segundo narra a beata Ana Catarina Emmerich em uma de suas visões privadas, o Divino Mestre tinha “a fronte alta e larga, e o rosto belo e ovalado. O cabelo, de um castanho-avermelhado e não áspero, singelamente repartido desde o alto da cabeça, caía-lhe sobre os ombros. A barba, não sendo comprida, era aparada em ponta e repartida na altura do queixo”.2 Conta a Tradição que seus os olhos eram cor castanho claro, e irradiavam uma bondade imensa, capaz de levantar do pecado os piores criminosos, e arrasar com intransigência os mais empedernidos de coração.

Pode-se imaginar que, à medida que Jesus pregava, a cor de seus olhos se modificava. Quando, por exemplo, seu ardente zelo pela glória do Pai se manifestava, é de se acreditar que seus olhos mudavam para um tom castanho escuro e, ao perdoar, clareavam-se, dando ao pecador a impressão de estar mergulhando num oceano de perdão… Como imaginar o olhar do Homem-Deus?

É ainda o professor Plinio Corrêa de Oliveira quem imagina ser este “um olhar muito sereno, aveludado, que revelava, entretanto, uma sabedoria, retidão, firmeza e força” 3 inigualáveis. E acrescenta:

“Um olhar que contém tudo o que há de mais celeste, de dignidade, de meiguice, de bondade, de perdão e sabedoria a perder de vista. Todas as perfeições da ordem do universo estão contidas no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, de maneira que Ele tem estados de alma que correspondem a todas as belezas da criação”. 4

Considerando todas as grandezas humanas que a História apresenta, todos os sábios, todos os santos, os grandes pensadores, os pregadores, os magnatas, todos os reis, todas as perfeições do Céu, da Terra e do mar, toda a variedade da fauna e da flora, todas os atos heróicos dos grandes homens da história, tudo é nada em comparação com um olhar de Jesus!5 “O que são os vitrais das catedrais, o que são as estrelas do Céu, o que são os reflexos do Sol sobre as águas dos oceanos, em comparação simplesmente com um minuto em que se pudesse fitar o Vosso olhar!?”.6

Àqueles que se aproximavam implorando perdão, Nosso Senhor lhes deitava um olhar de suma misericórdia; àqueles, porém, que queriam pôr obstáculos à sua missão redentora, lançava um olhar de indignação, como se pode encontrar em todo o capítulo 23 do Evangelho de São Mateus, em suas pugnas com os fariseus.

Verdadeiramente, em toda a sua vida pública, Nosso Senhor quis fazer o bem a todos que com Ele se encontravam. Entretanto, fica claro, pela narração apostólica, que diante do olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, não há terceira posição: ou se tem admiração ou se tem ódio. Ver-se-ão agora alguns exemplos, onde nitidamente aparecem essas duas atitudes.

Exemplos evangélicos

Percorrendo as riquíssimas páginas dos Sagrados Evangelhos, encontram-se inúmeras passagens onde o olhar de Jesus se faz especialmente notar. Já em seu nascimento, Deus quis que os olhos do infante Jesus recaíssem em algo que fosse o resumo de todas as maravilhas do universo: o olhar de Nossa Senhora. O Menino-Deus viu a face esplendorosa de Maria, sua Mãe, discerniu sua alma e seu Imaculado Coração.

Não se pode com palavras explicar, nem com o entendimento humano compreender a alegria que a puríssima Virgem teve no instante do nascimento de Jesus […]. Prostrando-se diante d’Ele com profundíssima reverência, disse: Bene veneris, Deus meus, Domine meus et Filius meus – Sejas bem-vindo, meu Deus, meu Senhor e meu Filho. E assim O adorou, e beijou seus pés como a Deus, a mão como a seu Senhor, e a face como a seu Filho.7

E então, “pode-se supor que o Divino Infante sorriu. Ele desejou um afeto de mãe quando abriu os olhos para este mundo; e quis um carinho materno quando os fechou”.8

A Virgem Santíssima cuidou com todo amor e carinho de seu Filho e, à medida que o tempo passava, o Menino Jesus crescia e se fortalecia (Cf. Lc 2, 40). Porém, dos trinta anos de vida oculta em Nazaré, pouco se conta nos Evangelhos. No entanto, pode-se afirmar, sem dúvida, que a casa de Nazaré transformou-se num relicário de olhares, onde somente os Anjos puderam contemplar…

Contudo, de sua vida pública, registram-se uma série de olhares que passaram para a História pela pluma dos evangelistas.

Continua no próximo post.

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Todas as belezas reunidas num Homem: Conferência, São Paulo: [s.d]. (Arquivo IFTE).
2 EMMERICH, Ana Catarina. A Paixão de Jesus Cristo. São Paulo: Paulus, 2004. p. 246.
3 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Sacrossanto olhar de Jesus. In: Dr. Plinio. São Paulo: Retornarei, n. 70, jan. 2004. p. 19.
4 Id. O olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo: Conferência. São Paulo: [s.d.]. (Ver Anexos, FOTO 2)
5 Loc. cit.
6 Id. E seremos repletos de grandeza… In: Dr. Plinio. São Paulo: Retornarei, n. 49, abr. 2002. p. 18-19.
7 “No se puede con palabras explicar ni con entendimiento humano comprender el gozo que la purísima Virgen tuvo en aquel punto del nacimiento de Jesús. […].postrándose delante de Él con profundísima reverencia, dicen que dijo: Bene veneris, Deus meus, Domine meus et Filius meus: Bien seáis venido, mi Dios, y mi Señor, y mi Hijo. Y así Le adoró, y besó los pies como a Dios, la mano como a su Señor y el rostro como a su Hijo” (TRUYOLS, Andres F. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2 ed. Madrid: BAC. 1954. p. 47.)
8 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Quadrinho: presença de uma mãe. In: Dr. Plinio. São Paulo: Retornarei. n. 119, fev. 2008. p. 8.

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