Pai que também é Rei

Emelly Tainara Schnorr

Assim como Jesus se fez terno e pequeno, ou majestoso e compassivo, em sua vida terrena, no Santíssimo Sacramento Ele Se revela ora Pai, ora Rei.

Gemendo e chorando neste vale de lágrimas”… A oração de São Bernardo — a Salve Rainha — bem reflete as dificuldades que, qual tempestade em alto mar, devemos atravessar nesta vida para chegarmos ao porto feliz do Céu. No meio do percurso, nossa pobre embarcação dá amiúde sinais de estar prestes a soçobrar, agitada pelos vagalhões dos dramas e aflições. E não poucas vezes somos levados a nos julgar abandonados e sem rumo.

Entretanto, o mesmo divino olhar que fitou os Apóstolos por três anos nos acompanha a cada passo, convidando-nos a buscar refúgio junto a Ele nas alegrias ou reveses da vida, tão próximo quanto com os Doze, no sagrado convívio da Eucaristia. No Santíssimo Sacramento, Jesus está realmente presente, e ali permanece dia e noite à nossa espera, quer nos magníficos sacrários das imponentes catedrais, quer nos recolhidos tabernáculos das simples igrejinhas ou capelas. E para nos encontrarmos com Ele não é preciso ter hora marcada…

Tomados por afazeres e preocupações, talvez passemos diante de uma igreja e resolvamos nela entrar. Quem nos incitou a cruzar os umbrais da casa de Deus, sem receio de ser importuna a nossa visita? Quiçá pensemos ter sido uma iniciativa própria. Não obstante, foi o Celeste Prisioneiro do sacrário que nos convidou a estar com Ele por uns instantes.

Ajoelhamo-nos diante do altar e sentimo-nos objeto de um bondoso e oculto olhar, ou escutados por ouvidos prontos a nos atender. Envolve-nos um silêncio benéfico, cortado apenas pelo crepitar do fogo da lamparina que, continuamente acesa, indica a augusta presença d’Aquele que é a Luz do mundo. Até os estalidos discretos do pequeno pavio parecem levar a alma a ouvir a voz do Redentor, desejoso de entrar em contato conosco e comunicar-nos sua graça. Diante d’Ele não nos deve atemorizar o abismo que há entre sua grandeza infinita e nossas misérias, pois Ele se fez Homem, como nós, e nos espera para atender nossa oração, desde que seja sincera.

Ao sair de tal visita, nos sentimos afagados por Jesus Eucarístico, com mais força para continuarmos a labuta da vida. Se buscarmos sempre esse afetuoso estímulo, nunca esmoreceremos diante dos obstáculos que surgem em nosso caminho.
Ora, quantos se esquecem desse Médico Onipotente que cura as misérias passadas, dá vigor para enfrentar as lutas presentes e prepara para a vida futura nos Céus! E procuram, ao contrário, uma vã solução para suas fadigas nas riquezas e prazeres materiais que deixam a alma vazia…

A Santa Igreja, porém, não se satisfaz com adorar a Cristo-Hóstia reservado no sacrário. Ela criou também o ostensório. Nele Jesus parece estar revestido de esplendor, e o próprio cerimonial prescrito para a exposição do Santíssimo recorda estar presente o Rei dos reis, que entronizado na cristalina custódia recebe as homenagens de seus súditos fiéis e sobre eles derrama seus abundantes dons.

Esta breve reflexão pode sugerir ao leitor uma pergunta: existe, então, uma diferença entre o contato que temos com Jesus no sacrário e aquele que desfrutamos quando O encontramos no ostensório? Estritamente falando, a resposta é não, pois em ambas as situações está sua presença real, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Mas assim como em sua vida era o mesmo Jesus que, tenro Menino, numa pobre manjedoura causou medo a Herodes e atraiu a Si os reis do Oriente, e com insuperável majestade se compadecia das misérias humanas, a ponto de tocar os leprosos ou devolver a vista aos cegos, também na Eucaristia Ele se apresenta com aspectos diferentes: “no ostensório, é um Rei que também é Pai. No sacrário da capela é um Pai que também é Rei. E nossa alma quer ora um convívio, ora outro”. 1

1CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 29 set. 1979.

Revista Arautos do Evangelho- ago 2013

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