Sede pobres!

Ir Letícia Sousa, EP

“Decapitai-o! Morte ao rei! Abaixo a monarquia! Viva a república!” Frases como essas retumbavam fortemente nas ruas de Paris nos anos da Revolução Francesa. O populacho acorria à capital por falta de pão e, estando lá, se unia aos revolucionários republicanos contra o Monarca e a nobreza.

Mas, essa situação, outrora protegida pelo lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, com o passar dos anos nos deixou uma incógnita: Será que a doce França conheceu melhores dias que os que antecederam a era do terror? Ou realmente a falta de pão, “causa” da revolta do povo, trouxe igualdade, pão e bens materiais para todos?

Acaso a afirmação de Nosso Senhor no Evangelho, “pobres sempre tereis entre vós” (Jo 12,8), foi apagada da bíblia que usavam os revolucionários nas terras da Filha Primogênita da Igreja? Pois, se não é assim, por que tentar estabelecer a nivelação de bens a todas as classes?

O problema, na realidade, não está em ter ou não ter bens materiais, riquezas, tesouros, e sim, ser ou não ser pobre de espírito, pois São Mateus no Evangelho frisou a profundidade da primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).

Há um matiz esquecido pelos tempos atuais da necessidade desta pobreza ser de “espírito”. O autêntico pobre de espírito é aquele que reconhece que tudo vem de Deus, conformando-se com a administração Divina em dar a cada um conforme sua vontade.

O que de fato convém a todos é seguir, em graus diversos, o conselho do Divino Mestre: “Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Procurai o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 3 1-33).

“Nosso Senhor não me diz aqui de que as riquezas deste mundo vão ser dadas a mim como prêmio da minha piedade, não, não diz isso. Ele afirma que, se eu me entregar sinceramente à busca do Reino d’Ele, à perfeição, portanto, da santidade, vou receber essas riquezas na medida em que esta perfeição exija, na medida em que eu tenha necessidade delas, elas me virão às mãos”. [1]

Há momentos na vida terrena de Jesus em que realmente Ele critica o apego à riqueza material. O moço rico do evangelho, por exemplo, recusou um chamado tão sublime de Nosso Senhor: a ser apóstolo. “Moço rico, escolhido para ser Apóstolo, não quis. Por que não quis? Porque tinha muita riqueza e ele não quis vender tudo e distribuir aos pobres”. [2]

Entretanto, o que Cristo recomenda no evangelho não é que todos os homens vivam sem bens, mas que o principal objetivo seja buscar o reino de Deus que não é perecível.

Sigamos o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo a Riqueza, para nós se tornou pobre para nos enriquecer. Imitemos tantos santos na história que, seguindo os passos do Salvador, foram verdadeiramente pobres e, desta maneira, teremos os Céus abertos para nós, recebendo o cêntuplo já aqui nesta terra.

Acrescenta ainda nosso fundador Mons João Clá Dias que, não basta abandonar materialmente:

“Se o moço rico tivesse vendido tudo, dado aos pobres e seguido a Nosso Senhor, mas, se julgasse que ele era um grande homem porque tinha feito uma grande coisa, não adiantaria nada! Porque quando ele chegasse na hora de entrar no Céu, ele ia bater na porta da eternidade, mas as portas não iam se abrir, porque as portas não se abrem àqueles que são orgulhosos”. [3]

Portanto, peçamos a Maria Santíssima, Mãe da despretensão e da justiça, a graça de abandonarmos tudo que nos prenda a esta terra perecível e sermos pobres de espírito, e, assim, poderemos entrar nos Céus e o que precisarmos nesta terra nos será dado por acréscimo segundo o beneplácito Divino.

[1] CLA DIAS, Mons. João Scognamiglio. Meditação — 16/11/1992 (arquivo IFTE)

[2] Id. 2°Homilia 2 1/8/2007 (arquivo IFTE)

[3]  Ibid.

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