Luta no Céu, luta na Terra

Ir. Isabel Sousa, EP

Percorrendo os anais da História, facilmente deparamos-nos com verdadeiras epopeias bélicas, pugnas e pelejas admiráveis que deixaram um fulguroso rastro para os séculos vindouros, seja na linha da virtude da fortaleza manifestada por alguns durante o combate, como também a repulsa ao orgulho e mediocridade de outros. Tais situações foram um pálido reflexo e prolongamento de uma primeira batalha ocorrida nos primórdios da criação: “Houve uma grande batalha no céu” (Ap 12,7), narra o Livro Sagrado. E São João, referindo-se à raça da maldita serpente, declara: “E já não houve lugar para eles nos céu” (Ap 12,8).

Com efeito, a revolta dos Anjos rebeldes e, como decorrência, o brado de São Miguel, deram início à batalha que cada homem deverá desempenhar durante sua peregrinação terrena para alcançar a glória no Céu: “A vida do homem sobre a terra é uma luta” (Jó 7,1).

Entretanto, o combate dos homens não é uma luta física, mas espiritual. “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas […] contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares” (Ef 6,12).

A fim de que os homens pudessem mais facilmente manifestar o heroísmo a que são chamados a ter, Deus incumbiu os Anjos de os auxiliarem, como afirma São Paulo: “Não são todos os Anjos espíritos ao serviço de Deus, que lhes confia missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação?” (Hb 1,14), e em outro lugar: “Deus confiou a seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos” (Sl 90,11).

De fato, por serem os Anjos puros espíritos e superiores aos homens em poder e força 1, a eles devemos não só recorrer nas dificuldades, mas ter a alma constantemente voltada para esse mundo angélico, pois sendo ininterruptas as pugnas contra Satanás e seus sequazes, também o auxílio celeste não pode faltar.

Nesse sentido, atesta o Professor Plinio Correa de Oliveira: “Têm os olhos abertos para os Anjos, aqueles que têm os olhos abertos contra Satanás; e só têm os olhos abertos contra Satanás aqueles que nunca fecharam os seus olhos para os Anjos”2

Na expulsão dos Anjos decaídos, teve papel preponderante o glorioso São Miguel Arcanjo. “Ele defendeu a Deus e Deus quis servir-Se dele como seu escudo”.3 Este príncipe da milícia celeste era considerado na Idade Média o primeiro dos cavaleiros; “o Cavaleiro Celeste, perfeitamente leal como um cavaleiro deve ser, forte idealmente como deve ser um cavaleiro, puro como um anjo e vitorioso como deve ser o cavaleiro”.4

Nas grandes e terríveis pugnas da era atual bem podemos imaginar como será a atuação de São Miguel. “Deus quer que ele seja o escudo dos homens contra o demônio; Deus quer que ele seja o escudo da Santa Igreja Católica contra o demônio. Mas um escudo que não é meramente escudo: é gladio também. Ele não se limita a defender, mas ele derrota, ele precipita no inferno”.5

Nós devemos, portanto, considerá-lo como o nosso fiel “aliado natural nas lutas” e jamais temer o adversário.6 A exemplo dele, “tomemos por couraça a fé e a caridade, e por capacete a esperança da salvação” (1Ts 5,8), e não cessemos de bradar: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, o que é, o que era e o que deve voltar” (Ap 4,8).

1 Cf. ROYO MARÍN, Antonio. Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963. p. 365.
2 CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. So Paulo, 15 jul. 1982. (Arquivo IFTE).
3 Id. São Miguel Arcanjo, modelo do perfeito cavaleiro. Conferência. So Paulo, 28 set. 1966. (Arquivo IFTE)
4 Loc. cit.
5 Loc. cit
6 Loc. cit.

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