O serviço e o desejo de santificar

Raphaela Nogueira Thomaz

Por onde passou Maria Santíssima e com quantos Ela conviveu nesta Terra, deixou a marca indelével de sua bondade materna, confirmada pelos Santos Evangelhos. São Lucas nos oferece uma cena comovedora, na qual brilha o cuidado de Nossa Senhora com os seus: “E naqueles dias, levantando-Se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. E entrou em casa de Zacarias, e saudou Isabel”. (Lc 1, 39-40)

Fala-se da partida pressurosa de Maria para visitar sua prima, já anciã, que estava para dar à luz um filho. As asperezas do percurso — naquele então desprovido das conduções elétricas e dos nivelamentos das estradas de que dispomos hoje — não Lhe constituíram qualquer obstáculo e empreendeu uma viagem de distância talvez nunca antes por Ela percorrida.

A razão deste empenho sobre-humano encontramo-la explicada nas obras de Santo Ambrósio:

“Desde que ouviu isto, Maria […], alegre em seu desejo, para cumprir um piedoso dever, pressurosa pelo gozo, dirigiu-Se à montanha. Cheia de Deus, poderia Ela não elevar-Se com pressa às alturas? Os cálculos lentos são desconhecidos à graça do Espírito Santo. […] Maria, que antes vivia a sós em seu retiro mais estrito, aparece agora em público. O pudor virginal, a aspereza das montanhas, a distância do caminho não lhe impedem de prestar seu serviço. A Virgem Se dispõe a subir as montanhas, a Virgem que pensa servir e esquece sua pena. Sua caridade Lhe dá força […], deixa sua casa e parte“. 1

De fato, era pelo desejo de suprir as necessidades de Santa Isabel que Maria Se pôs a caminho pelos montes escarpados da Judéia. O desejo do serviço A moveu.

Todavia, seu santo anseio em partir sem lentidão conhecia ainda uma causa mais sublime: a santificação daquele que sua prima gestava, o qual prepararia os caminhos para o Salvador: João Batista, o Precursor do Messias. Diz-nos o Evangelho que a criança saltou no ventre materno de Santa Isabel ao receber a saudação de Maria (cf. Lc 1, 41).

Orígenes comenta esta passagem:

“Não havia sido cheio do Espírito Santo até que se apresentou diante dele a que levava a Jesus Cristo em seu ventre. Foi, então, quando pleno do Espírito Santo saltou dentro de sua mãe. E prossegue: “E Isabel ficou cheia do Espírito Santo”. Não há o que duvidar, pois a que então foi repleta do Espírito Santo, o foi por seu filho”. 2

O insuperável amor maternal da Virgem Maria não se limitou apenas ao Filho Unigênito — o que de si já seria em extremo grandioso —, mas se estendeu a todos os que tiveram a alegria de desfrutar de seu convívio nesta Terra. Vemos aqui um aspecto de carinho materno de Maria dedicado Àquela que por via natural Lhe tinha parentesco.

1 SANTO SANTO AMBRÓSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. Madri: BAC, 1966, p. 95-96. (Tradução da autora).
2 ORÍGENES, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. Exposición del Evangelio de San Lucas. C I, v. 39-45. (Tradução da autora).

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