A grandeza do sublime e a humildade

Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas,EP

No decorrer da História, os povos europeus foram demonstrando um agudo senso do maravilhoso. Almejavam enlevar, entusiasmar e aumentar no espírito humano as apetências pelo divino. Tal anseio natural pelo belo havia sido posto por Deus nas almas para prepará-las e dirigi-las a fim de receberem os auxílios sobrenaturais da graça.

Ora, nos séculos XII e XIII a cultura europeia foi marcada por um crescente gosto pelo maravilhoso, culminando com o gótico; arte que explicitou todo o amor a Deus que consumia as inocentes almas dos medievais.

Reza a lenda que um sultão árabe foi aprisionado durante as cruzadas e transportado para França. Como ele havia dado a palavra de honra de não fugir, deixaram-no que passeasse por toda a cidade de Paris para conhecê-la. Ao deparar com o pórtico de uma abadia, onde moravam frades, interrogou a quem o acompanhava: “Quem a construiu?”. E apontando para os religiosos respondeu-lhe: “Foram eles”. Ele os olhou e desconcertado perguntou: “Mas como homens tão humildes podem construir monumentos tão altivos?”.

Se tivéssemos o privilégio de percorrer a cidade de Paris daquela época como o fez esse prisioneiro árabe, ficaríamos estupefatos com tantas maravilhas e a mesma indagação nos perturbaria a mente. E após termos conhecido ao menos três dessas imponentes construções concluiríamos: “Sim! Eram homens humildes, mas com grandes almas, desejosas de grandezas!”.

Realmente os medievais eram profundamente sérios e estavam constantemente imbuídos pelo sobrenatural. Inspirados por moções divinas, procuravam reproduzir, nesta terra, reflexos daquilo que na eternidade contemplaremos no Paraíso Celeste.

Assim era era São Luís, rei da França: repleto deste espírito e possuidor de um perfeito equilíbrio de alma. Um verdadeiro varão católico que cumpriu com radicalidade os mandamentos de Deus e lutou pela causa católica em uma das cruzadas, deixando-nos uma lembrança de sua personalidade: a Sainte-Chapelle.

Admirável, incomparável e de uma beleza perfeita, a Sainte-Chapelle foi construída por este rei santo para conter uma das maiores preciosidades da Cristandade: a coroa de espinhos do Divino Redentor. Uma capela feita de cristal — um relicário! — onde os vitrais não se restringem apenas a uma função estética de permitir a entrada da luz, mas constituem um verdadeiro tratado de teologia ilustrada, pois neles estão representados os principais fatos da Bíblia. As cores alegres e diáfanas infundem na alma uma certa harmonia; a altura do teto eleva os pensamentos e aumenta os horizontes para o conhecimento das verdades sobrenaturais. Ao entrar nela um pecador arrebatado pela graça sente-se impelido a enveredar pelo caminho do arrependimento, da conversão e do perdão. Quem nela entra sente a grandeza de Deus, sendo atraído a Ele. Ela é a obra-prima da temperança, harmonizando os extremos do homem e equilibrando sua alma.

Entretanto, a civilização hodierna, com seus atrativos e seduções, procura ofuscar o maravilhamento pelas obras dos séculos áureos da Cristandade, aumentando o gosto pela desordem e pelo pecado. Deste modo, as coisas sobrenaturais e retas correm o risco de serem esquecidas.

Imploremos ao Divino Espírito Santo que nos conceda a graça de aprendermos a degustar as coisas sublimes, retas e elevadas que na Terra nos falam do céu.1

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Sabor das coisas celestiais. In: Revista Dr. Plinio. São Paulo: Retornarei, n. 86, maio 2005, p. 34.

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