Audiência especial

Ir Elen Coelho, EP

Voltemos nosso olhar ao passado, ao tempo das catedrais, dos castelos e dos grandes reis. Reportemo-nos a um edifício bem fortificado, erguido no cume de um imponente monte, rodeado de um lindíssimo jardim com fontes e alamedas. Do alto dessa fortaleza um poderoso monarca observa vigilante os seus queridos vassalos que, prestativos e obedientes, trabalham em harmonia para o bom funcionamento do reino.

Dentre esses súditos havia um camponês que tranquilamente lavrava sua terra e que subitamente observou que, por primeira vez naquele ano, a macieira produzira atraentes frutos, tanto pelo tamanho quanto pela cor. O camponês assombrado abandonou o trabalho e se pôs rapidamente a colher os frutos. Mas, qual a razão de tanta pressa? Por acaso, haveria de enviá-los a alguém?

Sem dúvida alguma, ao ver aquelas maçãs, o camponês se lembrou do senhor daquelas terras e resolveu presenteá-lo em retribuição por tudo o que dele havia recebido. Entretanto, o que almejava o camponês, mais do que ofertar aqueles frutos, era prestar um ato de vassalagem com o objetivo de contentar o monarca.

Assim sendo, o homem cuidadosamente colheu as maçãs, colocou-as numa cesta e se dirigiu ao castelo. Ao chegar, explicou ao guarda que vinha trazendo as primícias dos frutos do ano e pedia que fossem apresentadas à rainha para que ela, por sua vez as oferecesse ao rei quando lhe parecesse oportuno.

A rainha, conhecida por sua extrema bondade, entendeu bem a intenção do camponês. Ela própria tomou as maçãs, lavou-as, colocou-as numa bela bandeja de vermeil com incrustações de rubis e esmeraldas. Ordenou, pois, ao mordomo que a trouxesse quando ela estivesse à mesa com sua majestade, a fim de lhe apresentar os frutos. E assim foi feito. Quando chegou o momento do rei se servir das frutas, a própria rainha tomou a bandeja e a apresentou a seu esposo, explicando-lhe qual era a sua proveniência. Aquelas maçãs, ofertadas pelas mãos da rainha, haviam tomado outro colorido e mais intimamente tocado o coração do rei.

O rei, tomando uma das maçãs, observou-a e, satisfeito disse à rainha que este gesto do camponês lhe havia agradado sobremaneira, e que desejava recompensá-lo. A rainha sorriu e constatou que o desejo do camponês havia se realizado.

Não poderia o camponês ter apresentado diretamente ao rei as frutas que havia colhido? Teria necessidade de fazê-las passar pelas mãos da rainha? Absolutamente falando, não. Contudo, quão menos teria agradado ao soberano tê-las recebido diretamente das mãos deste pobre operário!

Pois bem, essa história — baseada em um ensinamento de São Luís Maria Grignion de Montfort 1 — nos mostra quão importante é o papel da mediação em nossa vida: nossas orações e súplicas passam a ter uma audiência especial diante Deus quando sabemos nos servir da Rainha do Céu e da Terra. Ela, por sua cooperação no Sacrifício Redentor de Cristo e por sua maternidade espiritual, mereceu o título de medianeira e distribuidora universal de todas as graças 2.

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n.147. 31.ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 142.
2 CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2.ed .São Paulo: Loyola, 2011, v.II, p. 125.

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