Luz que serena e fortifica

Fahima Spielmann

“Quando o calor do Sol e o peso da vida te parecerem por demais duros, vem repousar sob minha luz tamisada pelos coloridos da graça!”

Como não ficar tomado de enlevo ao contemplar um magnífico panorama marítimo? Ou o delinear de um arco-íris após uma tempestade? Ou mesmo o simples desabrochar de uma flor salpicada de orvalho e iluminada pelo Sol?

As criaturas, poderíamos dizer, não conseguem manter-se fechadas em si, mas cantam com muda loquacidade a glória de seu Criador, glorificando-O com suas excelências e restituindo-Lhe, desse modo, o bem que d’Ele receberam.

Contudo, assim como o Divino Artífice concedeu à natureza a faculdade de revelar de algum modo sua suprema beleza, quis outorgar ao ser humano a capacidade de elaborar maravilhas ainda maiores, partindo dos seres inanimados. Pensemos, por exemplo, na diferença entre um diamante em estado bruto e a gema de extraordinária formosura saída das mãos de hábil lapidador. Ou nas finas sedas tecidas a partir de prosaicos casulos de lagarta.

Os exemplos poderiam se multiplicar. Dado o insaciável desejo de perfeição posto por Deus no espírito humano, poder-se-ia traçar, percorrendo os séculos, um capítulo da história intitulado “A procura do Belo”. E nele veríamos que quanto mais uma civilização está próxima de Deus, melhor consegue refletir nas suas obras as sublimidades celestiais. Razão pela qual o melhor do patrimônio cultural e artístico legado a nós pelo passado foi edificado nas eras de maior fervor cristão. Uma pequena amostra disso são os vitrais, surgidos na época áurea da Idade Média. Fruto de mãos e corações amantes de Deus, têm eles a virtude de transformar a luz material numa feeria de cores que, com a ajuda da graça, nos transporta para o mundo sobrenatural. Quando a luz do Sol os atravessa, matéria e espírito como que se osculam, criando uma atmosfera própria a apaziguar o coração de quem se detém para os contemplar.

Assim, podemos imaginar uma alma especialmente aflita, tomada por angústias e dificuldades da vida, entrando numa bela catedral e voltando os olhos, de modo instintivo, para a origem da policromia luminosa que enfeita suas paredes. Ao se deparar com a figura desenhada no vitral, vai ela sendo tomada aos poucos por uma consolação que enche sua alma de equilíbrio e a leva a recolher-se e rezar. Representada no vidro em esplêndidas cores, vemos Maria Santíssima com seu Divino Filho nos braços, num gesto de terna súplica, parecendo pedir clemência por um pecador. Dulcificada e serenada por tal luz e fortificada pela oração que imperceptivelmente fizera, a pessoa sai do templo consolada e cheia de confiança. Sente como se uma voz sobrenatural lhe tivesse sussurrado: “quando o calor do Sol e o peso da vida te parecerem por demais duros, vem repousar sob a minha luz tamisada pelos coloridos da graça!”.

Entretanto, se por vezes esta luz se eclipsar, como ocorre à noite com o vitral, jamais percamos a confiança. Ao raiar da aurora, aquele raio de luz voltará a reluzir ainda com maior fulgor!

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