A vida, um sopro que passa…

Ir Maria Teresa Ribeiro Matos, EP

Para ninguém se apresenta como novidade o qualificativo desta Terra como um vale de lágrimas. A vida com suas repetições e rotinas – noite e dia, sol e chuva, frio e calor, trabalho e descanso, saúde e doença, gáudios e tristezas – nunca constituirá um paraíso só de delícias.

Tudo nesta Terra é passageiro, “a vida do homem não é mais do que um sopro” (Sl 61,10), cantava o salmista. Assim sendo, o homem que coloca demasiada esperança em si mesmo e nas coisas desse mundo, todas perecíveis, facilmente cai na desilusão.

É o que nos diz Cecília Meirelles em seu poema: “Anda o sol pelas campinas/ e passeia a mão dourada/ pelas águas, pelas folhas…/ Ah! tudo bolhas/ que vêm de fundas piscinas/ de ilusionismo… – mais nada. […] Porque a vida, a vida, a vida,/ a vida só é possível/ reinventada”1 .

A escritora não foi a primeira a descrever o desencanto das coisas terrenas. Há mais de três mil anos já descrevia essa situação o mais poderoso e mais sábio dos monarcas que Israel conheceu, o Rei Salomão, no livro do Eclesiastes.

Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos. Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr. Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol. Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: Veja: isto é novo, ela já existia nos tempos passados. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles.

Eu, o Eclesiastes, fui rei de Israel em Jerusalém. Apliquei meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do sol, e eis: tudo vaidade, e vento que passa (Ecle 1, 2-14).

Entretanto, há uma solução para esse dissabor da vida. A própria autora do poema no-la descreve ao dizer: “A vida só é possível reinventada”.

No que consiste, então, essa reinvenção da vida? Em reinventar o seu conceito. Vejamos os diversos modos de vê-la.

Se considerarmos que o fim último do ser humano se cumpre nesta Terra e que tudo acaba com a morte, que não existe uma realidade superior além da que constatamos com nossos sentidos, então realmente tudo é vaidade, tudo é ilusão!

Mas outra é a certeza que nos dá a fé católica: o homem está nesta Terra apenas como peregrino, sua existência aqui é uma preparação para a verdadeira vida que se inicia após sua morte, e que é eterna. Assim sendo, tudo o que o homem faz, sente e quer tem uma repercussão na eternidade e nada constitui uma repetição tediosa e sem sentido, mas sim um mérito ou demérito conquistado para a vida futura.

Ademais, Deus, Pai providente, está sempre orientando e agindo na História da humanidade. Eis uma bela reinvenção da vida: contemplar o agir de Deus, seja na natureza — como um belo pôr de sol ou uma suave nevada —, seja na alma de nossos semelhantes, como, por exemplo, a candura de uma criança inocente ou o desvelo carinhoso de uma mãe. Atentos a essas maravilhas proporcionadas pelo Altíssimo, abstraimo-nos do material e corriqueiro da vida e desvendamos, assim, o verdadeiro sentido dela.

Reinventada deste modo, a vida se tornará não só possível, mas também bela e atraente.

1MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972, p. 94.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *