A existência de Deus: questão de inteligência ou de fé?

Fahima Akram Salah Spielmann

Vistes um dia a Napoleão ou então conhecestes alguns dos povos bárbaros extintos atualmente? Se mesmo sem teres visto neles acreditais, porque não acreditar em um Deus tão visível aos nossos olhos?

Se há um só Deus , só há uma forma de louvá-Lo

Ante o hodierno problema do ateísmo, a conclusão da existência de um Deus se transformou não exclusivamente em dogma de fé, mas fruto de uma demonstração. E os argumentos cientificamente desenvolvidos não podem ter como resultado senão esclarecer e fortificá-la.

O ateísmo é, em poucas palavras, a atitude de quem nega ou ignora a Deus. Segundo Bettencourt: “os estudos recentes manifestam que o ateísmo não é um fenômeno primitivo da humanidade, mas sim, um fenômeno pós-religioso, ou seja, um fenômeno que supõe uma religião e que se ergue contra ela, à guisa de crítica ou de réplica”. 1

Em outros termos, o ateísmo não é uma manifestação espontânea da natureza humana, pois como a própria História nos narra desde a mais remota Antiguidade, nenhum povo ficou sem ter um Deus — ainda que falso —, e, portanto, sem uma religião à qual aderir.

Lançai um olhar sobre a superfície da terra, dizia Plutarco, e achareis cidades sem muralhas, sem letras, sem magistrados, povos sem casa, sem moedas; mas ninguém viu jamais um povo sem Deus, sem sacerdotes, sem ritos, sem sacrifícios. Todos os povos, cultos ou bárbaros, em todas as zonas e em todos os tempos, admitiram a existência de um Ser Supremo. Agora bem, como é possível que todos tenham se enganado a respeito de uma verdade tão importante?

Contudo, o mundo moderno criou outro obstáculo para poder esquivar-se dessa crença: a separação da fé e da razão. Segundo o professor Plinio Corrêa de Oliveira este apartamento, onde a teologia deve cuidar exclusivamente da Revelação e a filosofia da razão natural é extremamente errada: “a razão se baseia em fatos que estão no seu conhecimento, e a fé é algo que a razão não deduziu, mas que você conheceu através da Revelação. Ambas são certeza, se bem que a maior é a fé”.2

A exemplo da retina que só captura a visão das coisas que estão ao seu alcance, a razão chega até os seus limites e a fé complementa de forma superabundante a insuficiência daquela.

A este respeito afirma o salmo: “Dixit insipiens in corde suo, non est Deus” — Diz o insensato em seu próprio coração, Deus não existe! — (Sl 13), ou seja, o insensato, aquele que escolheu a via do mal, a fim de abafar sua consciência tenta assegurar a inexistência de Deus. Portanto, o insensato que declara não haver Deus em seu coração, de alguma maneira O percebeu com seu entendimento, e se O percebeu, compreendeu que poderia existir em realidade, mas escolheu negá-Lo.

Como provar, então, fisicamente a sua existência?

São Tomás de Aquino3 desenvolve cinco vias para prová-la. Primeiramente tomemos a do movimento. Todos os seres são movidos por um motor, é a lei da inércia, pois um corpo em repouso não pode decidir por si mesmo pôr-se em movimento.

Assim, os mares, as galáxias, os ventos, supõem um motor primeiro movente, que só pode ser Deus, um Ser Imóvel (no sentido que é o único a ter essa autonomia) e Absoluto. A este respeito considerava um grande General: “Que significa a mais bela manobra militar comparada com o movimento dos astros?”.

Em segundo lugar temos a causalidade, todas as coisas que existem supõem uma causa primeira que as fez, para qual todas tem uma ligação e subordinação, que só pode ser Deus.

Também a contingência se encontra nessa lista, uma vez que o mundo físico é feito de seres contingentes, por onde uns dependem dos outros. Logo, é preciso existir um Ser que seja a Razão Suficiente das demais, ou seja, Deus.

Os graus de perfeição são postos em quarto lugar, pois tudo no mundo possui perfeições limitadas e em diferentes graus, desde uma joaninha, até um magnífico pôr-do-sol. Ora, dessa realidade se deduz a existência de um Ser ilimitadamente perfeito, que é Deus.

Por fim, na última prova há a ordem e finalidade do universo. Quem contempla o céu estrelado, sabiamente coordenado dentro de proporções que escapam às cifras comuns dos homens, vê nessa ordem natural a Causa total e a Inteligência Ordenadora das coisas criadas, pois, se jogássemos todas as peças de um relógio dentro de uma caixa, elas por si não formariam um relógio, analogamente o Universo, onde cada estação sucede outra, depois da noite vem o dia, supõe uma Inteligência Ordenadora, um Deus.

Desse modo, podemos exclamar com Vitor Hugo: “Deus é o Invisível evidente!”

1 Bettencourt, Mater Ecclesiae, Rio de Janeiro
2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestras e Conferencias. São Paulo: Sn, 06. Maio. 1980
3 GARRIGOU-LAGRANGE, Règinald. El sentido común: la filosofia del ser y lãs formulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclé de Brouwer, 1945.

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