A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta

martiresCaroline Fugiyama Nunes

Ao analisarmos a história do cristianismo, constatamos que, durante séculos, os cristãos sofreram perseguições atrozes por parte de imperadores, foram levados a tribunais onde, com ufania, proclamavam a crença em um único Deus verdadeiro e, em Jesus Cristo, Homem-Deus, Redentor do gênero humano, sendo por isso torturados e condenados à morte.

O objetivo dessa ousadia era espalhar a semente do Evangelho por todo mundo, convertendo-o de bárbaros homens que eram em homens de Fé, exemplos de santidade. Ora, essa enorme e difícil tarefa, humanamente impossível, realizou-se através do oferecimento da vida de um grande número de mártires. “Por mais que seja refinada — escreve Tertuliano –, vossa crueldade não serve de nada: ainda mais, para nossa comunidade constitui um convite. Depois de cada um de vossos golpes de machado, nós nos tornamos mais numerosos: o sangue dos cristãos é semente eficaz!” , “semen est sanguis christianorum” ( Apologético 50, 13).

Entre as histórias destes heróis, as que causam mais admiração são as dos Santos Apóstolos.

Sabemos que entre os que Nosso Senhor havia escolhido para serem seus discípulos, Pedro se destacava por possuir uma alma muito manifestativa e impetuosa. E estas suas características peculiares levaram-no, muitas vezes, a afirmar verdades que nenhum outro Apóstolo jamais se atreveria a dizer. Entretanto, cheio de fé, fervoroso e até imprudente, São Pedro passava facilmente do maior fervor ao temor mais declarado. No início da Paixão de seu Divino Mestre, por exemplo, ele O negou três vezes.

Contudo, depois da Ressurreição, antes mesmo de subir aos Céus, estando Jesus com seus discípulos à beira do mar de Tiberíades, perguntou a Pedro se este O amava. Quer dizer, Ele queria provar se Pedro era capaz de padecer tormentos, inclusive entregar sua vida, se fosse preciso, em função desse amor que ele acabava de declarar. E o Divino Mestre concluiu dizendo: “Em verdade te digo: quando eras jovem, amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos e outro te amarrará e te levará para onde não queres ir” (Jo 21, 18). E São João comenta em seu evangelho que estas palavras significavam a morte com que Pedro ia dar glória a Deus (Cf. Jo 21, 19).

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E assim se fez. Durante a perseguição do Imperador Nero, Pedro foi preso e levado para o Cárcere Mamertino, em Roma. Um ano depois, o Príncipe dos Apóstolos, condenado à morte, foi conduzido à Colina Vaticana e, conforme seu pedido, foi crucificado de cabeça para baixo, pois não se achava digno de morrer da mesma forma que seu amado Mestre.

Conta uma lenda que antes de ser crucificado, Pedro, não medindo as consequências de seus atos, fugiu. A certa altura do caminho, deparou-se com Nosso Senhor que vinha em direção contrária. Expressivo e arrojado como era, Pedro perguntou: “Domine, quo vades?” (Senhor onde vais?); o Divino Mestre respondeu que estava voltando para ser crucificado no lugar dele. Estas palavras soaram de tal maneira na alma de Pedro que, mais uma vez arrependido e envergonhado, voltou e foi martirizado.

“A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta”, afirma São Tiago (Tg 2, 17). Entretanto, a caridade também não se resume em meras palavras. O amor a Deus para ser perfeito, tem que se traduzir em obras, acima de tudo, numa inteira disposição de alma para enfrentar qualquer situação, padecer qualquer tormento e se for preciso entregar a própria vida.

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